A generalidade das notícias sobre o próximo Orçamento de Estado que irá ser hoje aprovado em Conselho de Ministros, é encabeçada pela referência a que muitas das pedidas e políticas apresentadas, designadamente, em matéria da incontornável “austeridade” vão vai longe que o estabelecido no negócio realizado com a troika a que têm chamado “plano de ajuda”.
Ainda há poucos dias o Público referia que os cortes na educação são já o triplo do exigido pela troika. Como comentei na altura e sempre tenho afirmado, a troika procurou fazer um negócio com Portugal que acautelasse os interesses dos mercados, os deuses que nos regem e que têm andado nervosos e sem confiança. Se atentarmos nos juros que a “generosa ajuda” da troika cobra aos países em dificuldade e, por isso, “ajudados”, percebemos como a caridade desinteressada é tão cara.
A troika, para ter a certeza que os interesses dos seus representados não corre riscos cria uma série de exigências garantindo, assim, que voltaremos aos mercados, o supremo objectivo da ajuda, sempre os mercados.
Como é evidente não esqueço a imperiosa necessidade de combater desperdício e ineficácia independentemente da situação de crise mas parece-me absolutamente imprescindível que se não esqueça que as medidas políticas, o Orçamento é uma ferramenta de base para a gestão política, estão, devem estar, ao serviço das pessoas, ou seja e de outra maneira, a troika trata de mercados e a política trata de pessoas. Começa a ser difícil perceber como podem as pessoas suportar mais austeridade em nome de algo pouco tangível, indefinível para a maioria dos cidadãos, como confiança dos mercados, dívida soberana, etc.
Há alguns meses atrás, uma entidade basicamente desconhecida para a esmagadora maioria de nós, a Aon Risk Solutions, colocava-nos no lote dos países com algum risco de violência pública em consequência da crise e da austeridade. Esta entidade tem a mesma isenção que as famosas agências de rating pois é parte interessada na avaliação, ou seja, quanto maior for o risco, maiores serão os encargos com seguros e, portanto, a favor dos interesses das seguradoras que financiam a Aon Risk Solutions. A avaliação de risco assentou nos exemplos de outros países, designadamente da Grécia.
Na altura, o responsável pelo Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo afirmou que o risco de violência pública é baixo.
De facto, somos reconhecidamente um país de brandos costumes, dizem. Não abusamos da violência e quando o fazemos é no recato do lar, quando muito, no quintal ou num desaguisado de trânsito, nada que possa configurar violência pública ou convulsão social graves. A nossa violência, é uma violência de proximidade.
Somos mesmo um povo tranquilo e de brandos costumes, uma das apreciações que os estrangeiros quase sempre referem como característica dos portugueses.
A questão é que, como dizia Camões, todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Um dia cansamo-nos de ser bons rapazes.
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