“Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias que em chove ponho-me a
pensar que não sou só eu que vivo arreliado. Depois, o cheiro da terra molhada
é que me faz de novo animar.” (Almada Negreiros)
Já chove no Meu Alentejo. Está um
dia cabaneiro como por cá se fala, bom para ficar na cabana, vento forte, muito forte,
daquele que assobia nas árvores e no telhado do monte e chuva grada de vez em
quando. Só falta o frio para parecer Inverno.
A terra gretada pela secura que
parecia chorar lágrimas secas pela chegada da chuva, as lágrimas molhadas, já
liberta o inconfundível cheiro de que falava Mestre Almada e que me deixa mais
animado. E bem que é preciso algum ânimo, os tempos vão duros.
Esta chuva vai lavar o pó e tudo
fica mais bonito.
Vai começar a aparecer algum
verde na terra, que ficando mais branda da água que a amolece já pode ser
fabricada e daqui a poucas semanas podem iniciar-se as sementeiras. Virá
rapidamente o tempo das favas, dos alhos ou dos cereais, por exemplo.
Por outro lado, creio que a secura
não tem estado a afectar só a terra. Sinto que as pessoas também se sentem
secas, já com pouco ou nada para dar, cansadas, ansiosas por alguma mudança, às vezes nem sabendo exactamente o quê, que a desesperança mata o sonho.
Do qualquer coisa que se leia relativamente
à vida da gente transparece receio, ansiedade, decepção, desconfiança, revolta ... Este período que deveria ser a marcado
pela festa do regresso às aulas é marcado pelo medo … do regresso às aulas.
Creio que cada um de nós gostaria
que mudassem coisas diferentes, mas que mudassem. Para já que mudasse o cenário
de saúde que assusta e de que não se vislumbra o fim.
Um problema sério é que também a
confiança no futuro parece seca como a terra estava até ontem.
A terra vai ficar melhor, já
chove no Meu Alentejo. E nós, as pessoas?
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