Por estes dias e sem estranheza
multiplicam-se na imprensa as abordagens ao início do ano lectivo que está
quase aí.
É uma matéria sazonal, mas este
ano as circunstâncias são verdadeiramente excepcionais. Assim, mais do que a
própria reentrada ou entrada na escola, surgem as questões relativas à situação em matéria de saúde.
Apesar de algumas expressões de
confiança e optimismo, as referências às inquietações, aos receios, ao “não é
possível”, ao risco para alunos, professores, técnicos, pais, … todos, são
imensas.
Percebe-se que assim seja e
sublinho a importância do escrutínio da comunidade sobre as condições em que os
seus filhos frequentarão a escola.
Também percebo a importância de
que esse escrutínio, dúvidas e receios, sejam divulgados. É assim que deve ser
em sociedades abertas.
Também me inquieto, aliás, tenho um neto a regressar ao jardim-de-infância e outro ao 2º ano e sei que não
há risco zero. Vejo, por exemplo, poucas referências à existência de docentes, técnicos e
funcionários, suficientes e competentes, colocados nas escolas a horas e aos
recursos, sobretudo, de natureza digital e de acessibilidade, condição
essencial para assegurar, primeiro, a recuperação e consolidação e,
naturalmente o progresso nas aprendizagens de todos os alunos, sublinho, de
todos os alunos.
Não tenho dúvidas que a maioria
das questões abordadas decorre da preocupação com o bem-estar educativo e não
só das crianças e adolescentes.
E justamente em nome do bem-estar
dos mais novos creio que seria necessário um discurso à sua volta que fosse
tranquilizador, realista, informado e informador, mas sereno e confiante. É
óbvio que seis meses fora da escola pelas circunstâncias conhecidas ou a
entrada pela primeira vez e neste clima podem ser geradores de alguma ansiedade e
receio em todos, mas sobretudo nos mais pequenos ou mais vulneráveis.
A motivação do retorno ou da
entrada, a saudade da escola, colegas e professores são factores de protecção
para esta eventual ansiedade e receio, mas os discursos que ouvem também
deveriam contribuir para a sua serenidade.
Como há dias afirmava numa
conversa no DN, se forem acolhidos, tranquilizados, ajudados a acomodar-se, as
coisas poderão correr melhor.
Costumo dizer que os primeiros
dias são para aprender a escola e não para aprender as coisas da escola e eles mesmo os que regressam precisam de reaprender a escola, a escola que vão encontrar não é a que deixaram. Para isso temos que conversar com eles,
criar um tom e um clima acolhedor. Este ano esta ideia parece-me ainda mais importante.
Os alunos vão precisar de falar
das “suas” coisas, do que fizeram, do que não fizeram, do que gostaram, do que
não gostaram, e os professores têm as ferramentas, a empatia, para fazer isso,
assim se crie a ideia de que este é um trabalho importante antes ou paralelamente às actividades curriculares.
Se a prioridade for dada à
burocracia e se entrarem naquela "azáfama grelhadora", tão presente
nas nossas escolas, de construir grelhas basicamente por dois motivos, por tudo e por nada, e não se
simplificarem os processos, a coisa poderá correr menos bem.
Creio que devemos começar por acolher
os alunos com serenidade, sobretudo os mais novos, e ajudá-los a sentar outra vez, tão tranquilos
e confiantes quanto possível. Depois aprendem, antes não.
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