domingo, 6 de setembro de 2020

SERENIDADE, PRECISA-SE

 

Por estes dias e sem estranheza multiplicam-se na imprensa as abordagens ao início do ano lectivo que está quase aí.

É uma matéria sazonal, mas este ano as circunstâncias são verdadeiramente excepcionais. Assim, mais do que a própria reentrada ou entrada na escola, surgem as questões relativas à situação em matéria de saúde.

Apesar de algumas expressões de confiança e optimismo, as referências às inquietações, aos receios, ao “não é possível”, ao risco para alunos, professores, técnicos, pais, … todos, são imensas.

Percebe-se que assim seja e sublinho a importância do escrutínio da comunidade sobre as condições em que os seus filhos frequentarão a escola.

Também percebo a importância de que esse escrutínio, dúvidas e receios, sejam divulgados. É assim que deve ser em sociedades abertas.

Também me inquieto, aliás, tenho um neto a regressar ao jardim-de-infância e outro ao 2º ano e sei que não há risco zero. Vejo, por exemplo, poucas referências à existência de docentes, técnicos e funcionários, suficientes e competentes, colocados nas escolas a horas e aos recursos, sobretudo, de natureza digital e de acessibilidade, condição essencial para assegurar, primeiro, a recuperação e consolidação e, naturalmente o progresso nas aprendizagens de todos os alunos, sublinho, de todos os alunos.

Não tenho dúvidas que a maioria das questões abordadas decorre da preocupação com o bem-estar educativo e não só das crianças e adolescentes.

E justamente em nome do bem-estar dos mais novos creio que seria necessário um discurso à sua volta que fosse tranquilizador, realista, informado e informador, mas sereno e confiante. É óbvio que seis meses fora da escola pelas circunstâncias conhecidas ou a entrada pela primeira vez e neste clima podem ser geradores de alguma ansiedade e receio em todos, mas sobretudo nos mais pequenos ou mais vulneráveis.

A motivação do retorno ou da entrada, a saudade da escola, colegas e professores são factores de protecção para esta eventual ansiedade e receio, mas os discursos que ouvem também deveriam contribuir para a sua serenidade.

Como há dias afirmava numa conversa no DN, se forem acolhidos, tranquilizados, ajudados a acomodar-se, as coisas poderão correr melhor.

Costumo dizer que os primeiros dias são para aprender a escola e não para aprender as coisas da escola e eles mesmo os que regressam precisam de reaprender a escola, a escola que vão encontrar não é a que deixaram. Para isso temos que conversar com eles, criar um tom e um clima acolhedor. Este ano esta ideia parece-me ainda mais importante.

Os alunos vão precisar de falar das “suas” coisas, do que fizeram, do que não fizeram, do que gostaram, do que não gostaram, e os professores têm as ferramentas, a empatia, para fazer isso, assim se crie a ideia de que este é um trabalho importante antes ou paralelamente às actividades curriculares.

Se a prioridade for dada à burocracia e se entrarem naquela "azáfama grelhadora", tão presente nas nossas escolas, de construir grelhas basicamente por dois motivos, por tudo e por nada, e não se simplificarem os processos, a coisa poderá correr menos bem.

Creio que devemos começar por acolher os alunos com serenidade, sobretudo os mais novos, e ajudá-los a sentar outra vez, tão tranquilos e confiantes quanto possível. Depois aprendem, antes não.

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