Como se antecipava desde o início da candidatura este ano registou-se
o mais alto valor de sempre no número estudantes que entraram no ensino
superior e ainda não se conhecem os números finais incluindo o ensino superior
privado.
Estranhamente, parte significativa do que vejo escrito e
opinado, não aponta o que isto pode significar de qualificação da população
portuguesa, procura questionar e desvalorizar tal subida e "vendendo-a" como "produto contrafeito", negativo. Julgo que alguma prudência é requerida nestas "análises".
Aponta-se designadamente a maior facilidade dos exames, os
efeitos do ano excepcional que se viveu em 19/20, às fórmulas de acesso e aos
diversos canais que existem e, assim, muita gente no ensino superior será um
problema. Não me é estranha a questão, quando em família se decidiu que eu
estudaria até ao superior se assim o desejasse fosse capaz, também houve gente que se interrogou por que razão o
meu pai, um serralheiro, “punha” o filho a estudar, era coisa só para alguns. uma estrada por onde não passávamos.
Quanto ao acesso e aos exames, quem me acompanha sabe de há
muito anos defendo que sendo importante que existam exames finais do
secundário, estes não devem ser quase que em exclusivo o critério de acesso o
que cria vários outros efeitos que podem enviesar o acesso. O processo de
candidatura ao superior deveria ser independente do processo de candidatura que
considera como se sabe múltiplas vias o que me parece adequado.
Quanto ao aumento do número de alunos é claramente uma boa
notícia.
Em sociedades desenvolvidas a qualificação é um bem de
primeira necessidade. Em Portugal e durante muitos anos temos ouvido discursos
como “não adianta estudar" que os indicadores sociais e económicos mostram
estarem errados e são um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco
qualificada como a nossa.
A tão divulgada ideia do “país de doutores” é falsa, em
termos europeus continuamos com uma das mais baixas taxas de qualificação
superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens. Aliás, talvez não consigamos cumprir a meta a que nos comprometemos com a UE para 2020,
40% de pessoas licenciadas entre os 30 e os 34 anos.
Este aumento de alunos coloca evidentemente e ainda bem, novas
exigências de qualidade nos processos de formação e nos recursos disponíveis,
mas mais uma vez é o que se espera de políticas públicas adequadas.
No entanto e considerando o que disse acima, tenho para mim que mais do preocupado
com os alunos quando entram e como entram, interessa-me mais saber como saem e
quando saem. Mais uma vez me lembro que quando entrei no superior tinha "estatuto" de aluno de baixo rendimento, era pouco interessado na generalidade das matérias do
secundário, cumpria serviços mínimos e carregava na mochila muitas negativas e um “chumbo” pelo meio, sem esquecer alguns interesses e actividade indesejáveis na altura. No superior, no curso que queria, as
minhas notas subiram e após uma carreira profissional acabada formalmente há
pouco acho que não estive mal, passe o juízo em causa própria.
E para que os que agora entram acabem e acabem com boa
formação precisamos de garantir os recursos em termos de apoios sociais que
previnam o abandono, as famílias portuguesas são das que maiores custos
suportam com a frequência de ensino superior.
Precisamos de equipas docentes e de investigação renovadas e
competentes no ensino politécnico e universitário, público e privado.
Precisamos de investimento no ensino superior e na sua
frequência que seja o garante da qualidade da formação e, portanto, do futuro.
Parece-me ainda, talvez fruto de algum irrealismo, que o
conhecimento é construído com, pelas e para as pessoas. Neste sentido continuo
a entender quem todos os cursos de ensino superior deveriam existir créditos obrigatórios
para áreas como ética e filosofia.
Um dia, creio, assim será.
Entretanto, a todos e todas que agora vão começar esta
estrada sejam bem-vindos(as) e bom trabalho.
Sem comentários:
Enviar um comentário