No Público encontra-se um texto
de Paulo Prudêncio, “Porque falham as nações com turmas numerosas” que propõe
uma reflexão estimulante em torno das políticas públicas e considerando um aspecto de forma mais particular, o número de alunos por turma.
Trata-se de uma questão
recorrente e com uma abordagem frequentemente com equívocos. Como é sabido, em
Junho foi reprovada no Parlamento uma redução do número de alunos por turma que
sustentasse um trabalho educativo com mais qualidade e qualidade para todos no
ano lectivo que agora se iniciou.
A este propósito retomo algumas
notas que me parecem oportunas considerando as circunstâncias de uma parte
significativa das nossas escolas e agrupamentos e os efeitos em muitos alunos
da forma como decorreu a parte final do ano lectivo passado.
Actualmente e em consequência da
alteração de uma das muitas “melhorias” introduzidas por Nuno Crato, as turmas
do ensino básico e secundário têm entre 24 e 28 alunos e o ensino profissional
entre 22 e 28 sendo que também no secundário se pode verificar a redução para
22 quando existirem na turma alunos com necessidades especiais. Talvez seja de
recordar que esta medida existe de há muito no básico e nem sempre se aplica,
provavelmente em nome da “inclusão”.
Antes de mais parece-me importante
sublinhar um aspecto nem sempre valorizado quando se fala do número de alunos.
Seria desejável que em conjunto com a análise e redução do efectivo de turma se
considerasse um outro importante aspecto nem sempre valorizado, o número de
alunos por professor. Muitos professores lidam com muitas turmas perfazendo
números acima dos 120 ou 150 alunos. Parece dispensável explicitar as
implicações negativas desta situação.
A revisão de estudos sobre o
número de alunos por turma e o seu impacto mostra o que também conhecemos,
existem vantagens em turmas de menor dimensão que podem ser mais ou menos
significativas em função das variáveis em análise.
Parece-me de acentuar que os
estudos sugerem com clareza a existência de impacto positivo no clima e
comunicação na sala de aula, na maior facilidade de práticas educativas mais
diferenciadas, no comportamento dos alunos, etc., o que, evidentemente deve ser
considerado e tem uma importância crítica nas escolas actuais.
Alguns estudos, apenas centrados
em resultados, não encontram diferenças significativas, mas também me parece
que nem sempre são consideradas variáveis importantes, de contexto por exemplo,
o que frequentemente também não é tido em conta nos discursos de alguns
economistas da educação.
É também fundamental considerar
as diferentes características dos diversos territórios educativos
independentemente da sua classificação como TEIP. Na verdade, é necessário
considerar as diferenças de contexto, isto é, a população servida por cada
escola, as características e dimensão da escola, a constituição do corpo
docente, os recursos disponíveis, etc. Importa ainda sublinhar que a qualidade
e sucesso do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos factores,
sendo que a dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa considerar,
vejam-se relatórios e estudos nesta área, as práticas pedagógicas, os processos
de organização e funcionamento da sala de aula e da escola, recursos e
dispositivos de apoios, bem como o nível de autonomia de cada escola ou
agrupamento, entre outros. Daí a importância de promover uma autonomia real.
Aliás, dentro do que entendo por verdadeira autonomia das escolas, estas deveriam
ser a ter a competência para definir e organizar as turmas embora aceite a
existência de orientações nesse sentido.
Aliás, também com base na
autonomia das escolas poderiam ser consideradas outras opções como a presença
de dois professores em sala de aula mesmo com um efectivo de turma mais elevado.
Em algumas circunstâncias pode ser mais vantajosa que a redução do número de
alunos por turma.
Acresce nesta matéria a
importância da qualidade do trabalho em turmas com alunos com necessidades
educativas especiais, sim existem alunos com necessidades especiais, o que,
evidentemente, deve ser considerado na análise do efectivo de turma, desde logo
cumprindo o que esteja legislado e acautelando a tentação de “inclusões
administrativas” em que os alunos ficam “entregados” e não “integrados”.
Diga-se ainda que é quase
dispensável referir a diferença entre trabalhar com 26 ou 28 alunos num
estabelecimento privado de acesso “protegido” ou com o mesmo número de alunos
num mega-agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias
turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.
Não só por esta razão, dimensão
das turmas e qualidade do trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos
professores, também me parece que deveria ser promovida uma verdadeira
desburocratização do trabalho nas escolas e promovido algum ajustamento na sua
organização e funcionamento o que certamente libertaria tempo de professores
para trabalho em turma ou em apoios que promovessem qualidade.
Sei que mudanças neste sentido são
politicamente difíceis e terão custos. No entanto, são imprescindíveis e os
custos do insucesso e da exclusão são incomparavelmente mais caros.
Como fica claro no texto de Paulo
Prudêncio.
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