De acordo com uma peça do DN, no arranque deste ano lectivo
aumentou substancialmente a procura pelo ensino privado. Este aumento não será surpreendente
dadas as circunstâncias em que decorreu o final do ano lectivo passado e o
início deste ano. Torna-se claro que percepcionando as famílias, de forma
ajustada ou não, que nas escolas do subsistema privado não encontrarão o mesmo
contexto que nas escolas públicas, as que possuam estatuto económico suficiente
tendem a considerar a opção pelo ensino privado.
De acordo com a peça existem colégios com lista de espera
superior a mil alunos.
Esta situação, ainda que associada a um contexto atípico, vem
sublinhar que, como frequentemente afirmo, sendo a existência de um subsistema
de ensino privado próprio de sociedades abertas é também importante como forma
de pressão reguladora sobre a qualidade da resposta pública. Por outro lado,
também me parece de recordar que nem o ensino privado é garantia de qualidade
nem o ensino público é o inferno. A excelência não é um exclusivo da escola
pública nem do ensino privado e todo o sistema deve ser regulado.
A este propósito merece referência o relatório Balancing School Choice and Equity, elaborado pela OCDE com base nos dados do PISA de 2015 e divulgado em 2019.
De acordo com o este relatório, Portugal é um dos países em
que o ensino privado mais é frequentado por alunos oriundos de contextos
familiares mais favorecidos. A existência de contratos de associação não parece
interferir significativamente neste quadro pois em 2015 apenas cerca 3% dos
estabelecimentos de ensino privado estavam envolvidos. Assim, considerando
também os tempos difíceis que atravessamos, julgo necessário recordar e
reafirmar algo que nem sempre parece lembrado.
Só a educação e a rede pública de qualidade podem promover
equidade e igualdade de oportunidades.
Só a educação e a rede pública de qualidade podem ser verdadeiramente
inclusivas e receber TODOS os alunos.
Só a educação e rede pública podem chegar a todos os
territórios educativos e a todas as comunidades.
Só a educação e rede pública de qualidade promovem
mobilidade social em circunstâncias de equidade no acesso.
Para que tal possa ser cumprido a educação e a rede pública
precisam de recursos materiais e recursos humanos valorizados e competentes.
As políticas públicas, em particular, as políticas educativas têm em cada momento histórico a
inalienável responsabilidade de garantir que assim seja.
Os custos da educação e da rede pública de qualidade não são
despesa, são investimento.
É isso que se exige. Em defesa da Educação e da Escola
Pública. Em nome dos nossos filhos, dos filhos dos nossos filhos ...
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