terça-feira, 4 de junho de 2019

CAIXAS DE COMENTÁRIOS E EDUCAÇÃO


No Público encontra-se uma referência a um trabalho de investigação que analisou 28 mil comentários recolhidos nas caixas de comentários de três jornais, Público, Expresso e Observador durante a campanha eleitoral das legislativas de 2015. O trabalho foi realizado por João Gonçalves, professor na Universidade de Roterdão, na Holanda, no âmbito de uma tese de doutoramento.
Da análise realizada e neste contexto releva o nível impressionante de “incivilidade” como designa o autor os discursos contendo insultos, ódio, ameaças, intolerância.
É interessante esta análise pois já há muito tempo que aqui no Atenta Inquietude tenho referido o embaraço que sinto quando passo os olhos pelas caixas de comentários de notícias ou trabalhos relativos ao universo da educação, designadamente quando se refere a professores. Embora lhes procure fugir quando se trata de educação nem sempre resisto e espreito. Prometo sempre a mim mesmo que não repetirei pois boa parte das vezes e com uma parte muito grande dos comentários fico algures entre o perplexo, o amargurado, o preocupado ou … agoniado.
De facto, é espantosa e muito preocupante a ignorância e a boçalidade com que muitas pessoas falam do trabalho educativo e do desempenho e problemas dos professores que muito frequentemente são "destratados".
É gente que tem soluções para todas as questões, claro, e a responsabilidade (culpa) de todos os problemas é atribuída a uma classe que não passa de uma cambada de energúmenos, incompetentes, mercenários e absentistas muito bem pagos e que a ninguém prestam contas.
Na verdade nem sequer estranho, gente com mais responsabilidade e conhecidos “opinion makers” fazem, com um maior grau de sofisticação, justiça lhes seja feita, apreciações da mesma natureza.
Recorrendo a uma conhecida expressão do “tuguês, “mete-me espécie” uma questão.
Boa parte dos autores destes comentários e dos que peroram assim em espaços de opinião tiveram, têm ou terão filhos em idade escolar e que frequentaram, frequentam ou virão a frequentar a escola.
Será que detestam tanto os filhos ou são tão negligentes que os colocam todos dias nas mãos destes malandros, os professores?
Ou serão tão ignorantes que falam do que não sabem ou considerando o todo através de uma experiência pessoal eventualmente menos positiva?
Não estou com isto a branquear incompetência ou erros, existem, claro que existem e o sistema carece de melhor regulação.
Estou apenas a dizer que boa parte destes discursos fazem parte do problema e alimenta o clima pouco amigável em que decorre a difícil acção educativa de professores e pais.
Uma análise e uma reflexão aprofundada sobre os conteúdos, os seus significados e interpretações, destes espaços de opinião, as caixas de comentários, também dariam certamente origem a um interessante trabalho de investigação.

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