No Público encontra-se uma
referência a um trabalho de investigação que analisou 28 mil
comentários recolhidos nas caixas de comentários de três jornais, Público,
Expresso e Observador durante a campanha eleitoral das legislativas de 2015. O
trabalho foi realizado por João Gonçalves, professor na Universidade de
Roterdão, na Holanda, no âmbito de uma tese de doutoramento.
Da análise realizada e neste
contexto releva o nível impressionante de “incivilidade” como designa o autor
os discursos contendo insultos, ódio, ameaças, intolerância.
É interessante esta análise pois
já há muito tempo que aqui no Atenta Inquietude tenho referido o embaraço que
sinto quando passo os olhos pelas caixas de comentários de notícias ou
trabalhos relativos ao universo da educação, designadamente quando se refere a
professores. Embora lhes procure fugir quando se trata de educação nem sempre
resisto e espreito. Prometo sempre a mim mesmo que não repetirei pois boa parte
das vezes e com uma parte muito grande dos comentários fico algures entre o
perplexo, o amargurado, o preocupado ou … agoniado.
De facto, é espantosa e muito
preocupante a ignorância e a boçalidade com que muitas pessoas falam do
trabalho educativo e do desempenho e problemas dos professores que muito frequentemente são "destratados".
É gente que tem soluções para
todas as questões, claro, e a responsabilidade (culpa) de todos os problemas é
atribuída a uma classe que não passa de uma cambada de energúmenos,
incompetentes, mercenários e absentistas muito bem pagos e que a ninguém
prestam contas.
Na verdade nem sequer estranho,
gente com mais responsabilidade e conhecidos “opinion makers” fazem, com um
maior grau de sofisticação, justiça lhes seja feita, apreciações da mesma natureza.
Recorrendo a uma conhecida expressão
do “tuguês, “mete-me espécie” uma questão.
Boa parte dos autores destes
comentários e dos que peroram assim em espaços de opinião tiveram, têm ou terão
filhos em idade escolar e que frequentaram, frequentam ou virão a frequentar a
escola.
Será que detestam tanto os filhos
ou são tão negligentes que os colocam todos dias nas mãos destes malandros, os
professores?
Ou serão tão ignorantes que falam
do que não sabem ou considerando o todo através de uma experiência pessoal eventualmente
menos positiva?
Não estou com isto a branquear
incompetência ou erros, existem, claro que existem e o sistema carece de melhor
regulação.
Estou apenas a dizer que boa
parte destes discursos fazem parte do problema e alimenta o clima pouco
amigável em que decorre a difícil acção educativa de professores e pais.
Uma análise e uma reflexão
aprofundada sobre os conteúdos, os seus significados e interpretações, destes
espaços de opinião, as caixas de comentários, também dariam certamente origem a
um interessante trabalho de investigação.
Sem comentários:
Enviar um comentário