Era uma vez um rapaz chamado Perfeito,
isso mesmo, Perfeito. Desde pequeno que se transformou num modelo no qual a
família se revia. Bem comportado, inteligente, sempre obediente e discreto era,
como se costuma dizer, o orgulho dos pais o que, deve dizer-se, incomodava a
sua irmã, um pouco mais velha, que se chamava Assim Assim. Como sabem, não é fácil a vida de irmã de
um Perfeito. Os pais ainda ficavam mais satisfeitos por toda a gente lhes fazer
sentir as qualidades do Perfeito e a inveja, diziam mesmo, que sentiam por não
terem filhos tão dotados.
A escola do Perfeito foi sempre
de uma tranquilidade absoluta, notas máximas e, mais uma vez, a perfeição como
aluno. Sempre concentrado, muito responsável, uma qualidade sempre muito
apreciada e exigida pelos professores. Nunca falava fora dos assuntos em
discussão nas aulas e aproveitava todo o tempo para estudar e manter o seu
estatuto de melhor aluno da escola. Nunca se lhe conheceu qualquer envolvimento
em algum incidente na escola. Como era hábito nas reuniões de pais, não havia
ninguém, professores ou outros pais, que não se referisse às enormes qualidades
do Perfeito. Em casa o tempo também era utilizado a estudar e mesmo o tempo que
dedicava ao computador era para alguma pesquisa por conteúdos de natureza
científica que aumentasse o seu conhecimento.
Um dia, teria o Perfeito uns
dezasseis anos, estavam os pais, como de costume, a aguardar que ele viesse
jantar sem que fosse necessário chamá-lo. Era um rapaz organizado e
responsável. A hora passou e os pais pensaram que desta vez o estudo estava tão
sério que tinha deixado escapar a hora de jantar.
Quando bateram à porta do quarto
e o Perfeito não abriu nem respondeu, entraram. O Excelente continuava a
surpreendê-los. Tinha o quarto completamente virado do avesso, desarrumado como
nunca tinha estado e ele deitado no chão brincava com uns bonecos pequenos com
que aos seis anos não tinha tido oportunidade brincar, estiveram dentro de uma
caixa estes anos todos. Quando o interromperam o Perfeito fez a primeira birra
da sua vida. Foi dura e os pais ficaram verdadeiramente assustados e perdidos.
Como perdido no tempo tinha
ficado o Perfeito.
Há tempos para tudo, quando não
os usamos nos tempos certos podemos perder-nos e os riscos podem ser grandes, não acontecem "apenas" birras.
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