terça-feira, 11 de junho de 2019

A HISTÓRIA DO PERFEITO


Era uma vez um rapaz chamado Perfeito, isso mesmo, Perfeito. Desde pequeno que se transformou num modelo no qual a família se revia. Bem comportado, inteligente, sempre obediente e discreto era, como se costuma dizer, o orgulho dos pais o que, deve dizer-se, incomodava a sua irmã, um pouco mais velha, que se chamava Assim Assim. Como sabem, não é fácil a vida de irmã de um Perfeito. Os pais ainda ficavam mais satisfeitos por toda a gente lhes fazer sentir as qualidades do Perfeito e a inveja, diziam mesmo, que sentiam por não terem filhos tão dotados.
A escola do Perfeito foi sempre de uma tranquilidade absoluta, notas máximas e, mais uma vez, a perfeição como aluno. Sempre concentrado, muito responsável, uma qualidade sempre muito apreciada e exigida pelos professores. Nunca falava fora dos assuntos em discussão nas aulas e aproveitava todo o tempo para estudar e manter o seu estatuto de melhor aluno da escola. Nunca se lhe conheceu qualquer envolvimento em algum incidente na escola. Como era hábito nas reuniões de pais, não havia ninguém, professores ou outros pais, que não se referisse às enormes qualidades do Perfeito. Em casa o tempo também era utilizado a estudar e mesmo o tempo que dedicava ao computador era para alguma pesquisa por conteúdos de natureza científica que aumentasse o seu conhecimento.
Um dia, teria o Perfeito uns dezasseis anos, estavam os pais, como de costume, a aguardar que ele viesse jantar sem que fosse necessário chamá-lo. Era um rapaz organizado e responsável. A hora passou e os pais pensaram que desta vez o estudo estava tão sério que tinha deixado escapar a hora de jantar.
Quando bateram à porta do quarto e o Perfeito não abriu nem respondeu, entraram. O Excelente continuava a surpreendê-los. Tinha o quarto completamente virado do avesso, desarrumado como nunca tinha estado e ele deitado no chão brincava com uns bonecos pequenos com que aos seis anos não tinha tido oportunidade brincar, estiveram dentro de uma caixa estes anos todos. Quando o interromperam o Perfeito fez a primeira birra da sua vida. Foi dura e os pais ficaram verdadeiramente assustados e perdidos.
Como perdido no tempo tinha ficado o Perfeito.
Há tempos para tudo, quando não os usamos nos tempos certos podemos perder-nos e os riscos podem ser grandes, não acontecem "apenas" birras.

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