Há muitos anos, no tempo em que
eu era miúdo e este subúrbio era ainda feito de poucas casas e algumas quintas,
não havia a ponte com o nome cujo significado era um sonho longe naquela altura, a época dos santos era esperada com
alguma excitação por nós, os mais pequenos, mas não só.
Aqui na zona, Almada, o santo que nos
pertence é o S. João, daí estas notas, mas todos nos serviam, o S. António em Lisboa e o S.
Pedro no Seixal também eram populares pretextos.
Os adultos organizavam umas
festas nas ruas com bailarico e as incontornáveis sardinhas e bifanas com rega,
é claro, que os organizadores vendiam para financiar uma excursão ao
estrangeiro, a Badajoz quase sempre, que naquele tempo o “nosso” estrangeiro
era perto e o dinheiro sempre curto.
Mas para nós, para além de uns
desaparecidos "pirolitos" em garrafas que tinham um berlinde de
vidro, os santos eram sobretudo as fogueiras, isso sim, as fogueiras.
Uns dias antes de cada santo, por
assim dizer, e por zonas começávamos a juntar lenha. Para tal, fazíamos umas
visitas às quintas da terra, ainda havia muitas que agora têm prédios plantados
e, sobretudo, organizávamos umas expedições às obras em curso e
"recolhíamos" toda a madeira que conseguíssemos e que acumulávamos
procurando tê-la sempre debaixo de olho, porque a carne do pessoal das outras
zonas era fraca e poderia não resistir à tentação de "levar" a nossa
lenha.
Nos dias da celebração a fogueira
durava enquanto houvesse lenha e vontade de saltar por cima dela. Tratava-se
então de saber quem era mais corajoso e enfrentava as chamas mais altas. À
custa destas exibições sempre conseguíamos umas vistosas aterragens falhadas do
outro lado ou uma roupa chamuscada.
Ainda brincávamos na rua e nestas noites era até tarde.
Havia sempre o espectáculo extra de alguns
dos adultos já com algum lastro alcoólico, digamos assim, tentarem mostrar
dotes de saltadores que muitas vezes também não acabavam bem.
Quase sempre e como número extra,
tínhamos direito a uma cena de lambada, sem grandes consequências porque festa
é festa, na qual quase sempre estava envolvida uma figura mítica da minha
terra, o meu saudoso amigo Pedro, mais conhecido pelo Sucata. Era homem que
andava por um enorme metro e sessenta, mas era a pessoa mais amiga de arranjar
uma confusãozinha de onde saía, invariavelmente, com mais umas lambadas e, é
verdade, mais uns amigos que lhe pagavam um copito. Tenho saudades do velho
Sucata.
Os santos na minha terra já não
são tão populares, limitam-se a oferecer feriados e algumas iniciativas, muitas delas, por assim dizer, são de “plástico”.
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