É abordada a importância protectora
que a família tem na resposta aos desafios da adolescência. Em muitas conversas
que realizo com pais estes “desafios” estão quase sempre na agenda. Normalmente
começo por recordar que crescer e ser, desde que se nasce é sempre um desafio mas, evidentemente,
percebo as inquietações associadas a estas idades.
Parece-me também importante
reafirmar, faço-o convictamente, que na maioria das situações, com mais ou menos
sobressaltos … a coisa corre bem.
Também sei que quando emerge
algum mal-estar a situação pode ser bem complicada para adolescentes e pais e
uma ajuda exterior pode fazer a diferença. Dito isto, também entendo que é
necessária prudência para evitar um excesso de “psicologização” da vida educativa
das famílias e na ideia de que existe algures um manual de instruções que tudo
conserta.
A família, recorrendo às palavras
de Paul Bowles que inspirou Bertoluci num filme notável, deveria ser sempre percebida como “The sheltering sky”, um céu
protector na vida de todos os seus membros, designadamente, nos que pela idade
ou pelas circunstâncias enfrentam “desafios”.
Parece-me ainda claro que este
céu protector só pode ser construído com base na comunicação, na escuta, na
disponibilidade (não estou a falar de tempo embora também), de percepção do que
se passa com o outro e do que ele sente.
Os estilos de vida, as alterações
dos quadros de valores e de prioridades nem sempre serão muito amigáveis para a
construção deste céu protector. Como sabemos as alterações climáticas
são uma realidade e também neste céu familiar se verificam alterações de clima
a que importa estar atento e prevenir … comunicando.
As famílias, nas suas diferentes
tipologias não podem ser um grupo de pessoas com a chave da mesma casa na qual
se cruzam, pouco falam e se escondem num ecrã. Tornam-se tóxicas e degradam-se.
Corremos então o risco de alguns adolescentes,
sobretudo em períodos mais crispados do ponto de vista social, como estamos a
viver, por exemplo, viverem com margens muito apertadas. Vejamos alguns
exemplos, se alguém os inquirir sobre o que pensam ser o seu futuro, o seu
projecto de vida, muito provavelmente obterá uma resposta vazia, ou seja, não
têm projecto de vida, não têm ideia de futuro, trata-se assim de viver o
presente e apenas o presente. A adolescência é uma fase fundamental na
construção da identidade. Certo, que identidades estão muitos destes jovens a
construir? Revêem-se nelas? Ou sentem-se meio perdidos num mundo em que não
sentem caber e encostam-se aos que estão tão perdidos quanto eles. Que
referências sustentam muitos destes jovens, o lado positivo? Os modelos
adequados, o que quer que isto seja? Ou os modelos fornecidos por quem, como
eles, vive o presente à pressa cheio de medo do futuro, procurando chegar a
tudo antes que se acabe a oportunidade?
Por vezes lembro-me de Brecht,
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem”. Esta ideia não tem como objectivo branquear ou
desculpar os comportamentos socialmente inadequados de adolescentes, dirigidos
a outros ou mesmo a si próprio mas a verdade é que muitos vivem com margens
demasiado estreitas.
Educar pode traduzir-se em ajudar
alguém a tomar conta de si próprio. Assim, a autonomia é o fio estruturante da
acção educativa e começa no berço. Quanto mais autónomos mais autodeterminados
e auto-regulados as crianças e jovens serão, menos será necessário "tomar
conta deles", eles saberão tomar conta de si de forma adequada.
O afecto é imprescindível, não
existe "afecto a mais" ou, noutra versão, "mimos a mais".
Existe mau afecto e mau mimo e mau porque é tóxico, faz mal e não por ser
muito.
As regras e os limites são bens
de primeira necessidade. Tal como com os afectos, nenhuma dieta educativa pode
prescindir de regras e limites.
Finalmente e insistindo, a educação, escolar ou familiar, assenta na relação que tem como ferramenta essencial a comunicação. A comunicação é essencial, em qualquer idade.
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