terça-feira, 25 de junho de 2019

DA RELAÇÃO ENTRE ESCOLA E PAIS


A propósito da recente decisão de que os funcionários públicos disponham de 3h para acompanhar os seus filhos no primeiro dia de aulas, o I tem uma peça sobre a necessidade de incentivar a relação dos pais e encarregados de educação da escola.
Todas as medidas que possam contribuir para a promoção desta relação podem ser positivas mas esta decisão será, do meu ponto de vista, mais simbólica que com impacto efectivo, deixa de fora os pais que não trabalham na administração. Não se percebe o que farão professores, técnicos ou funcionário que também são pais e, acho que se pode afirmar isto, sobretudo no 1º e 2º ciclo muitas famílias encontram já forma de acompanhar os seus filhos no primeiro dia.
A questão central tem ver com os dias seguintes, ou seja, que relação regular se estabelece entre pais e encarregados de educação e a escola. Trata-se de uma necessidade que se verifica na generalidade os sistemas educativos. Parece dispensável sublinhar a sua importância e na situação mais particular de alunos com necessidades especiais este envolvimento é crítico e, muitas vezes, não acomodado da melhor forma, para recorrer a um termo em moda.
assim como referir que se trata de uma dificuldade por resolver na generalidade os sistemas educativos.
Como múltiplos encontros com pais e diferentes estudos sugerem não podemos esquecer os constrangimentos decorrentes da legislação e horários laborais e a desmotivação ou negligência por parte dos pais pra além do impacto de alterações significativas nos estilos de vida com impacto nos tempos das famílias.
Também me parece claro ser necessário, por exemplo em sede de Concertação Social, avançar com propostas de alteração legislativa e, sobretudo, na organização horária do trabalho que poderia, essa sim, ter impacto na disponibilidade dos pais. Existem exemplos de diferentes países que se revelam mais positivos
No entanto julgo de considerar outros aspectos. Para além dos pais negligentes que existem e requerem outra abordagem creio que os pais e encarregados de educação que apesar de poderem vão pouco à escola ou nunca vão, se podem dividir em dois grupos, os pais que não alcançam a escola e os pais que a escola não alcança. Os primeiros são os que entendem, consciente ou inconscientemente, que a sua presença é irrelevante, não sabem discutir a escola, a escola é que sabe e decide sobre os filhos e deve resolver os seus problemas. Os outros, são os pais a quem o discurso produzido com alguma frequência pela escola sobre os seus filhos os leva a afastarem-se progressivamente. A experiência mostra que quando as crianças são mais pequenas, pré-escolar e 1º ciclo, os pais aparecem e começando afastar-se sobretudo a partir do 2º ciclo.
Neste quadro, creio que se o desejo de maior envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos for mais do que uma retórica, o sistema, através dos modelos de funcionamento, autonomia real e recursos das escolas, deverá introduzir alguns ajustamentos no sentido que algumas boas práticas sustentam.
Redefinição urgente do papel dos Directores de Turma e das condições de exercício da função pois são peças nucleares nos processos educativos e estão muitas vezes entregues a tarefas quase administrativas, criação de dispositivos com professores motivados, existem muitos, que possam ir ao encontro dos pais que a escola não alcança. Talvez da carga burocrática que rouba tantas horas de professores se pudessem recuperar algumas para outro tipo de trabalho não docente, mais útil e mais motivador.
Mudança nas formas e suporte do contacto, relação, comunicação entre a escola e a família, por exemplo, repensar a tipologia e conteúdos das reuniões de pais.
Parece também importante a existência de estruturas de mediação entre a escola e a família o que implica a existência de recursos humanos qualificados e disponíveis, veja-se o trabalho dos GAAF apoiados pelo IAC, experiências no âmbito da intervenção da Associação EPIS ou iniciativas ou projectos que algumas escolas conseguem desenvolver com resultados interessantes.
Recurso concertado às Associações de Pais como mediadores entre a escola e os pais que não vindo à escola, também não são dos que integram as Associações.
O espaço é curto mas creio que no actual quadro é possível ir um pouco mais longe na tentativa imprescindível de maior envolvimento dos pais na vida escolar dos miúdos, questão em mudança, sempre, e que obriga a uma contínua reflexão sobre os papéis e os processos e formas de envolvimento. 

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