Os mercados estão atentos e tudo se transforma numa oportunidade. O empreendedorismo é, aliás, uma competência na
formação e qualificação dos indivíduos nas sociedades actuais.
Mesmo as problemáticas de diversa
natureza que tornam grupos de cidadãos mais vulneráveis ou com necessidades
específicas são rapidamente transformadas em nichos de mercado, legais ou
ilegais, pois tudo tem cabimento.
Vem esta talvez estranha
introdução a propósito de um trabalho no I centrado nos “brinquedos inclusivos”
ou nos brinquedos que promovem a inclusão. Uma rápida pesquisa pela net mostra
uma infindável gama destes materiais ou dispositivos.
Na peça do I são ouvidos alguns
especialistas, incluído da área do “marketing” pois claro, sobre a questão dos
brinquedos inclusivos e retive uma afirmação sensata da pedopsiquiatra Ana
Vasconcelos “não se deve uma Barbie que anda em cadeira de rodas a uma criança
que tem de andar de cadeira de rodas”.
Talvez estas minhas notas se
expliquem pelo cansaço que me causa uma permanente referência à ideia de
inclusão que, muitas vezes, branqueia ou disfarça a exclusão.
Sim, sejamos claros, a inclusão é também uma área de negócio com múltiplas facetas, desde a formação de docentes
e de técnicos com uma oferta esmagadora e para todos os gostos e bolsas, a
promoção e venda de receitas e dispositivos milagrosos, as próprias respostas
educativas, sociais ou de qualificação profissional, etc. Chegou aos brinquedos
e não há que estranhar, por que razão não haveria de chegar? Os mercados são inclusivos.
Uma das muitas e importantes
funções dos brinquedos é mediar a relação das crianças como o meio em que se
movem, com o mundo à sua volta. Se as pessoas são diversas, se os animais são
diversos, se a natureza é diversa, se tudo é diverso … os brinquedos devem
espelhar essa diversidade.
Por outro lado, uma das
características de um brinquedo que cumpra a sua função, é que seja adequado ao
desenvolvimento e competências das crianças que com ele brincam e que, a partir
dessas competências, promova novas ou mais desenvolvidas competências.
O que é que isto tem a ver como
inclusão? Tudo e nada.
Tudo, se os brinquedos forem
usados de forma interactiva, com grupos diversos de crianças.
Nada, se, recupero a afirmação de
Ana Vasconcelos, a uma criança com um problema motor lhe derem uma boneca que
também evidencia um problema da mesma natureza e fique a brincar sozinha mesmo
que ao seu lado esteja um grupo de crianças.
Um brinquedo, nenhum brinquedo,
só por si é inclusivo ou exclusivo, a sua adequação à criança e o uso que dele é feito é que pode, ou não, promover inclusão.
O resto, desculpem lá … é
marketing e negócio.
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