Há dois dias o Público tinha um
trabalho com o sugestivo título, “Como não desesperar com os trabalhos de casa em
tempo de férias?
Estavam expressas as opiniões de
alguns especialistas sobre os trabalhos de casa nas férias e adiantavam-se alguns conselhos aos pais que, provavelmente, desesperarão com os TPC nas férias como se desesperam em tempo de aulas. Retomo algumas notas sobre esta questão cuja abordagem não é conclusiva, nem provavelmente alguma vez o será e merece
ser discutida sem preconceitos e juízos fechados.
Como tenho referido
frequentemente aqui e nos espaços de intervenção profissional, creio que o
recurso aos TPC clássicos deve ser ponderado e, por maioria de razão, também no
tempo de férias, sim, estamos a falar de férias.
Como é reconhecido em muitas
famílias os TPC clássicos têm ainda o problema de colocar com frequência os
pais em situações embaraçosas, querem ajudar os filhos mas não possuem
habilitações para tal.
A propósito, sempre recordo um
episódio pessoal em que numa reunião de pais em que participava e se discutia
esta questão, dizia-me uma mãe, “o senhor, da maneira que fala, se calhar é
capaz de ajudar o seu filho, mas na minha casa, chora a minha filha e choro eu,
ela porque quer ajuda, eu porque não sou capaz de lha dar.” Colocar os pais
nesta posição não me parece positivo.
O recurso ao TPC deveria avaliar
se o aluno, cada aluno, tem capacidade e competência para o realizar
autonomamente, por exemplo, o treino de competências adquiridas. Na verdade,
porque milagre ou mistério, uma criança que tem dificuldade em realizar os seus
trabalhos na sala de aula, onde poderá ter apoio de professores e colegas, será
capaz de os realizar sozinha em casa? Naturalmente tal só acontecerá com a
ajuda dos pais ou, eventualmente, de "explicadores" a que muitas
famílias, sabemos quais, não conseguem aceder alimentando desigualdade de
oportunidades.
Acontece ainda e deve
sublinhar-se que os estudos sugerem que "é sobretudo a qualidade das
aulas, mais do que o tempo global de aprendizagem que está associado ao sucesso
na aprendizagem”..
Dito isto e como não tenho uma
posição fundamentalista creio que poderíamos distinguir com relativa facilidade
o Trabalho Para Casa e o Trabalho Em Casa. O TPC é trabalho da escola feito em
casa, o trabalho em casa será o que as crianças podem fazer em casa que, não
sendo tarefas de natureza escolar, pode ser um bom contributo para as
aprendizagens dos miúdos. O que acontece mais frequentemente é termos Trabalhos
Para Casa e não Trabalho Em Casa.
É nesta perspectiva que também me
parece dever ser analisada a questão dos TPC nas férias. Podemos promover e
incentivar Trabalho em Casa que não tem de ser exclusivamente Trabalho de Casa.
Quando há algum tempo colaborei
num trabalho da imprensa sobre esta questão afirmei, as férias devem ser isso
mesmo, férias sem as mesmas rotinas e os mesmos trabalhos do tempo escolar.
Actividades como leitura, por
exemplo, não é um TPC, um dever a cumprir, é algo que se deve incentivar.
A leitura é só um exemplo.
Bom Natal e Boas Férias.
Bom Natal e Boas Férias.
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