A divulgação do Relatório do CNE “Estado
da Educação 2016” mereceu algumas referências dispersas na imprensa que
sublinharam alguns dos muitos e interessantes dados do Relatório.
Uma das referências que terá
suscitado mais exposição remete para as práticas dos professores nas quais predominam
metodologias de natureza expositiva.
Como parece claro, não só pela
leitura do Relatório e dos estudos que o sustentam, mas também pelo que sabe
sobre o enorme e complexo conjunto de variáveis que estão associadas
ao desempenho escolar dos alunos, desde variáveis individuais, estatuto
sociodemográfico familiar ou idade e trajecto escolar por exemplo, contextuais,
organizacionais, etc. será necessária uma enorme dose de prudência no
estabelecimento de uma relação de causa efeito entre as metodologias dos
professores e o insucesso de alguns alunos. O seu peso como variável explicativa do sucesso ou do insucesso não está avaliado no relatório embora não se possa, como é óbvio, negar a relação mas integrada no referido
conjunto de variáveis.
No entanto, o voluntarismo
ingénuo ou a visão menos competente do Ministro de Educação vêem a questão de
outra maneira.
Ontem na Chamusca, lê no Público,
pronunciou-se sobre a referência ao “método de ensino demasiado expositivo” e
afirmou que esses dados dizem respeito ao ano lectivo 2015- 2016, cujo início
"foi ainda da responsabilidade do
anterior Governo".
Mais acrescentou o senhor
Ministro, “Tivemos oportunidade de,
sabendo nós como o estado da educação se apresentava nesse ano lectivo, poder
desenvolver novas políticas públicas para dar resposta" à "estaticidade das salas de aula"
através da "flexibilização e da
autonomia curricular", declarou.
A sério Senhor Ministro?!
Talvez alguma cautela fosse
aconselhada, olhe que estas coisas não são fáceis.
Como pode verificar no gráfico da pg. 28 que ilustra estes dados a divulgação foi em 2012 sendo agora recuperados no Relatório do CNE. Percebe o que isto quer dizer? Isso
mesmo.
Por outro lado, acha mesmo que
as “metodologias expositivas” que parecem predominar já estão em alteração
fruto das “novas políticas públicas” de resposta à “estaticidade das salas de
aula”? Com base em que avaliação conhecida? O projecto de flexibilização e autonomia
curricular que, já o referi muitas vezes, me parece um caminho positivo está no
seu início e em desenvolvimento tal como o Programa Nacional de Promoção do
Sucesso Escolar. Talvez seja prematura esta conclusão.
Torço fortemente pelo sucesso do
trabalho em curso, é o futuro do país que está em causa mas Senhor Ministro, a
realidade não é projecção dos nossos desejos.
Há mais Educação, muito mais,
para além das metodologias sem lhes negar a importância. Talvez até seja de
pensar nas metodologias para decidir e realizar políticas públicas e mexer nas
coisas certas da forma certa. A autonomia e e mudanças na natureza, organização e conteúdos do currículo é umas áreas a considerar.
No entanto, sublinho que a única forma de responder à diversidade de alunos e contextos passa por incrementar os níveis de diferenciação nas práticas pedagógicas e a existência de dispositivos de apoio competentes e suficientes às dificuldades de alunos e professores.
No entanto, sublinho que a única forma de responder à diversidade de alunos e contextos passa por incrementar os níveis de diferenciação nas práticas pedagógicas e a existência de dispositivos de apoio competentes e suficientes às dificuldades de alunos e professores.
Mas aprecio a sua convicção. A época de Natal é um tempo de optimismo e alegria.
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