sábado, 16 de dezembro de 2017

A SÉRIO SENHOR MINISTRO?!

A divulgação do Relatório do CNE “Estado da Educação 2016” mereceu algumas referências dispersas na imprensa que sublinharam alguns dos muitos e interessantes dados do Relatório.
Uma das referências que terá suscitado mais exposição remete para as práticas dos professores nas quais predominam metodologias de natureza expositiva.
Como parece claro, não só pela leitura do Relatório e dos estudos que o sustentam, mas também pelo que sabe sobre o enorme e complexo conjunto de variáveis que estão associadas ao desempenho escolar dos alunos, desde variáveis individuais, estatuto sociodemográfico familiar ou idade e trajecto escolar por exemplo, contextuais, organizacionais, etc. será necessária uma enorme dose de prudência no estabelecimento de uma relação de causa efeito entre as metodologias dos professores e o insucesso de alguns alunos. O seu peso como variável explicativa do sucesso ou do insucesso não está avaliado no relatório embora não se possa, como é óbvio, negar a relação mas integrada no referido conjunto de variáveis.
No entanto, o voluntarismo ingénuo ou a visão menos competente do Ministro de Educação vêem a questão de outra maneira.
Ontem na Chamusca, lê no Público, pronunciou-se sobre a referência ao “método de ensino demasiado expositivo” e afirmou que esses dados dizem respeito ao ano lectivo 2015- 2016, cujo início "foi ainda da responsabilidade do anterior Governo".
Mais acrescentou o senhor Ministro, “Tivemos oportunidade de, sabendo nós como o estado da educação se apresentava nesse ano lectivo, poder desenvolver novas políticas públicas para dar resposta" à "estaticidade das salas de aula" através da "flexibilização e da autonomia curricular", declarou.
A sério Senhor Ministro?!
Talvez alguma cautela fosse aconselhada, olhe que estas coisas não são fáceis.
Como pode verificar no gráfico da pg. 28 que ilustra estes dados a divulgação foi em 2012 sendo agora recuperados no Relatório do CNE. Percebe o que isto quer dizer? Isso mesmo.
Por outro lado, acha mesmo que as “metodologias expositivas” que parecem predominar já estão em alteração fruto das “novas políticas públicas” de resposta à “estaticidade das salas de aula”? Com base em que avaliação conhecida? O projecto de flexibilização e autonomia curricular que, já o referi muitas vezes, me parece um caminho positivo está no seu início e em desenvolvimento tal como o Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar. Talvez seja prematura esta conclusão.
Torço fortemente pelo sucesso do trabalho em curso, é o futuro do país que está em causa mas Senhor Ministro, a realidade não é projecção dos nossos desejos.
Há mais Educação, muito mais, para além das metodologias sem lhes negar a importância. Talvez até seja de pensar nas metodologias para decidir e realizar políticas públicas e mexer nas coisas certas da forma certa. A autonomia e e mudanças na natureza, organização e conteúdos do currículo é umas áreas a considerar.
No entanto, sublinho que a única forma de responder à diversidade de alunos e contextos passa por incrementar os níveis de diferenciação nas práticas pedagógicas e a existência de dispositivos de apoio competentes e suficientes às dificuldades de alunos e professores.
Mas aprecio a sua convicção. A época de Natal é um tempo de optimismo e alegria.

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