Foram conhecidos dados ainda não
definitivos, só em 2019, de um trabalho ”O Projecto Reincidências – Avaliação da Reincidência dos Jovens Ofensores e Prevenção da Delinquência” desenvolvido
desde 2014 pela Direcção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais em
colaboração com a Universidade do Minho com o objectivo de estudar a reincidência
ou desistência de comportamentos delinquentes por parte de adolescentes dos 12 aos 15 anos abrangidos por uma medida tutelar educativa com internamento em
Centro Educativo.
Já aqui tinha referido alguns dados
conhecidos há algum tempo e que agora se confirmam. Foram
acompanhados 1403 jovens e do volume significativo de informação releva que 33.2% reincide em comportamentos de
delinquência podendo ser mais pois é possível que jovens inquiridos em 2014
possam ainda reincidir.
É importante referir que um
aspecto que pode marcar a diferença entre reincidir ou desistir de um trajecto
de delinquência é o apoio e suporte à saída do Centro Educativo depois de
cumprida a medida tutelar
Aliás, sempre que estas matérias
são discutidas, os especialistas acentuam a importância da prevenção e da
integração comunitária como eixos centrais na resposta a este problema sério
das sociedades actuais pelo que a resposta recentemente criada, (mas creio que
ainda só no papel) “casas de autonomização” pode constituir-se como um
contributo se dotada de recursos adequados.
Acresce que os Centros Educativos
sentem ainda forte constrangimento em matéria de recursos humanos pelo que mais
dificilmente cumprem o seu papel fundamental de reabilitação através da
construção de programas de educação e formação profissional.
Ainda de acordo com um estudo
divulgado há algum tempo realizado no âmbito do Programa de Avaliação e
Intervenção Psicoterapêutica no Âmbito da Justiça Juvenil, promovido pela
Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e co-financiado pela
Comissão Europeia, a população que está nos Centros Educativos acumula, em
geral, mais de três anos de chumbos na escola e em 80% dos casos é oriunda de
famílias de baixo estatuto socioeconómico.
As Comissões de Protecção de
Crianças e Jovens sentem-se incapazes de acompanhar o volume de casos das
respectivas comunidades, gerando situações, muitas conhecidas, com fim grave de
crianças que depois ficamos a saber, os dados de hoje confirmam-no, que estavam
“sinalizadas” ou “referenciadas”, mas sem resposta.
Sabemos que educação, prevenção e
programas comunitários e de integração têm custos, no entanto, importa ponderar
entre o que custa prevenir e cuidar e os custos posteriores do mal-estar e da
pré-delinquência ou da delinquência continuada e da insegurança.
Parece ser cada vez mais
consensual que mobilizar quase que exclusivamente dispositivos de punição,
designadamente a prisão, parece insuficiente para travar este problema e,
sobretudo, inflectir as trajectórias de marginalização de muitos dos envolvidos
mais novos em episódios de delinquência.
No entanto a discussão sobre
estas matérias é inquinada por discursos e posições frequentemente de natureza
demagógica e populista alimentados por narrativas sobre a insegurança e
delinquência percebida, alimentadora de teses securitárias.
Apesar de, repito, a punição e a
detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade
instalada, é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
É em todo este caldo de cultura
que nascem e se desenvolvem as sementes de mal-estar que geram os episódios que
regularmente nos assustam e inquietam e com consequências sérias.
É urgente que nos questionemos e
questionemos as instituições, em nome dos nossos filhos e dos filhos dos nossos
filhos.
Recordo Brecht, "Do rio que tudo arrasta diz-se que é
violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem".
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