Agora que o Natal passou e aguardamos pelo Ano Novo voltemos à lida.
No JN de há uns dias e com relevo na primeira página afirmava-se o número de alunos nos cursos de formação de professores no ano passado era o número mais baixo dos últimos 20 anos.
Na peça e com bom senso alguns especialistas sublinhavam o risco da ideia muito difundida da formação de professores a mais. Na verdade e a curto/médio prazo teremos necessidades para as quais corremos o risco de não ter resposta.
Recordando o Relatório “Perfil do Docente”, dados de 15/16, divulgado pela Direcção-Geral das Estatísticas da Educação e Ciência, apenas 399 docentes que trabalham em escolas públicas da Ed. Pré-Escolar ao E. Secundário têm menos de 30 anos de idade.
Em termos globais no grupo de 40 anos para cima temos na E. Pré-escolar 75.5%, no 1º ciclo 70.8, no 2º ciclo 82.6 e no 3º ciclo e E. Secundário 81.9%.
Como escrevi há algum tempo, num país preocupado com o futuro este cenário faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em conformidade.
Neste cenário parece evidente que muito rapidamente a necessidade de professores subirá fortemente e nem as oscilações da demografia permitirão sustentar a tese dos professores a mais.
Por outro lado e apesar do progresso verificado ainda contamos com uma das mais altas taxas de analfabetismo da Europa, segundo os Censos de 2011 e de acordo com a PORDATA, 5.15% de analfabetos em Portugal. Se a este cenário acrescentarmos o analfabetismo funcional, pessoas que foram escolarizadas mas que não mantêm competências em literacia, a situação é verdadeiramente prioritária.
Também por estas razões continuo a pensar que não temos professores a mais. Os custos pessoais e sociais para as pessoas nesta situação, em várias dimensões, e o impacto económico da falta de competências em literacia justificaria um fortíssimo investimento em minimizar a situação até ao limite possível. Como sempre trata-se de matéria de opções políticas e visão de sociedade.
A educação de adultos e a promoção de uma cultura de “aprendizagem ao longo da vida” é hoje uma área de forte investimento em diversos sistemas educativos mesmo em países taxas de alfabetização bastante acima das nossas.
No entanto, a procura mais baixa pela formação para professor, aliás considerada na informação recolhida junto dos adolescentes de 15 anos no PISA, também não deve ser dissociada de um outro conjunto de aspectos que na altura tive oportunidade de aqui referir e agora retomo.
Não creio que a este cenário, baixa na procura e na intenção de aceder à profissão de professor, sejam alheios alguns discursos produzidos sobre os professores que desvalorizam e empobrecem o seu estatuto social e a representação sobre a classe e que são produzidos, por exemplo, por “opinion makers” que frequentemente têm agendas implícitas e quase sempre estão mal informados.
Talvez também não seja alheia a instabilidade nas políticas educativas com impacto óbvio na estabilidade das carreiras e da sua valorização. Provavelmente em muitas famílias, as que mais probabilidades terão de ter filhos com melhor desempenho escolar, a profissão professor não é uma escolha incentivada ou, no mínimo, bem aceite.
Também alguns discursos vindos dos próprios representantes dos professores podem muitas vezes contribuir para equívocos e representações desajustadas sobre os professores e os seus problemas.
Julgo ainda que deve ser considerado o impacto de alterações nos valores, padrões e estilos e vida das famílias que fazem derivar para a escola, para os professores, parte do papel que competia(e) à família. Este trabalho é realizado, muitas vezes, sem qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada professor entregue a si mesmo em climas institucionais pouco favoráveis.
Deste cenário resulta como tantas vezes tenho afirmado a necessidade da valorização dos docentes e da sua profissão de modo a que se torne mais atractiva.
É minha convicção de que professor é uma profissão com futuro e sem a qual … não há futuro.
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