E a escola continua a engordar, a
engordar … até rebentar. É com reafirmada perplexidade que vou assistindo a
este contínuo movimento de engordar a escola a escola com conteúdos a
trabalhar, com os alunos.
Depois de há semanas e em
resposta à ideia da Associação de Professores de Ciências Económico Sociais de
criar “uma área disciplinar que promova, formalmente e de modo universal, a
educação económica e financeira dos alunos” do ensino básico e secundário, o ME
ter afirmado que no âmbito do projecto de flexibilidade curricular que está em
desenvolvimento em 236 escolas serão abordados estes conteúdos chegou a vez da
corrupção, sim da corrupção.
Li no DN que o Conselho de
Prevenção da Corrupção lançará no próximo ano um Projecto-piloto com formação
de professores para em seis escolas, cerca de 2000 alunos, promover um trabalho
que se reflicta no combate à corrupção. Meritória ideia, temos um problema a
escola resolve. Não, não a escola não resolve tudo.
Não está, evidentemente, em
discussão a importância de que a educação de crianças e jovens envolva as
diversas questões presentes na vida das comunidades, agora exemplificadas pela corrupção,
antes pelo contrário.
No entanto e por diversas
ocasiões tenho manifestado a minha reserva face ao entendimento de que tudo o
que de alguma forma possa envolver os mais novos e a sua formação deva ser
ensinado/trabalhado na escola. Esta visão obesa da escola não funciona, nem
tudo pode ou deve ser transformado em disciplinas, conteúdos escolares,
projectos, … para além de que a escola tem um conjunto de funções
incontornáveis que tornam finita a sua capacidade de responder.
Sabemos que, independentemente
das opções e visões ideológicas, uma das questões que no universo da educação
estarão sempre em aberto é a que envolve os conteúdos e organização curricular.
De facto, a velocidade de produção e acesso ao conhecimento e ao
desenvolvimento, as mudanças nos sistemas e no quadro de valores das
comunidades determinam a regular reflexão e ajustamento sobre o que a escola
deve ensinar e trabalhar, sobretudo durante a escolaridade obrigatória.
Por outro lado, o tempo da escola
e a competência da escola são finitos, isto é, a escola não tem tempo nem pode
ou deve ensinar tudo. Lembram-se certamente das discussões sobre se matérias
como educação sexual, educação cívica, literacia financeira (sim, não é a
primeira vez que se fala disto), educação para a saúde, para citar apenas
alguns exemplos, deverão, ou não, constituir-se como "disciplinas",
conteúdos ou mesmo se devem integrar os currículos escolares.
Em princípio, independentemente
dos conteúdos poderem ser mais ou menos pertinentes, vejo sempre com alguma
reserva as propostas de introdução de mais uma disciplina, mais conteúdos, mais
um manual, mais umas orientações, mais um programa de formação de professores,
como se a escola, o currículo escolar, os conteúdos, as suas competências,
pudessem continuar a engordar indefinidamente. E não se trata de um problema de
recursos ainda que seja de considerar.
Como é evidente, pode dizer-se
sempre que muitas destas questões podem integrar o trabalho escolar
considerando até que os alunos passam um tempo imenso, diria excessivo, nas
escolas. Aliás, tal acontece em muitas escolas e agrupamentos.
A questão central, do meu ponto
de vista, é que as competências da escola, os conteúdos que nela são
trabalhados, integrando ou não formalmente os currículos, não podem mesmo
aumentar continuamente. Urge uma reflexão serena, participada e com tempo sobre
o ajustamento dos conteúdos, a sua integração e organização, a forma como podem
acomodar a diversidade dos alunos e a necessidade de diferenciação dos
professores, a formação global dos alunos e não exclusivamente a promoção de
competências instrumentais, etc.
Somar conteúdos e competências à
escola sem ajustamento dos conteúdos e organização existentes, pode promover
problemas e não soluções, de tanto que lhe exigem corre risco de não
providenciar o que lhe compete.
Na verdade, nem tudo o que pode ser
interessante ou importante saber ou conhecer terá de caber numa disciplina ou num conteúdo escolar formal e nem tudo o que se pode saber e conhecer se aprende
na escola.
Tenho uma visão da escola
centrada no TODO do aluno e não no "ensino" do TUDO que o aluno deve saber ou
conhecer.
A dificuldade é que os alunos
estão muito tempo na escola e a tentação é óbvia, a escola que faça.
Quanto o combate à corrupção,
bom, essa é uma outra conversa.
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