Não é matéria que aqui aborde com
frequência mas é umas das minhas paixões, o futebol.
Talvez por isso da última vez que
o fiz, em Setembro, o texto tinha como título “Não matem essa coisa linda, o
futebol”. Pois parece que querem mesmo liquidar o futebol. O fim-de-semana foi
marcado por graves incidentes com adeptos, agressões a árbitros, tudo o que se
antecipava e não ficará certamente por aqui.
Na altura, a propósito de um
apelo de contenção do presidente da Federação Portuguesa de Futebol dirigido
aos responsáveis clubísticos escrevi que o alerta vinha tarde, as estruturas
directivas e reguladoras são parte do problema embora, evidentemente, se espere
que façam parte da solução.
Na verdade, também no desporto,
em particular no futebol, os tempos andam feios, por cá e por fora. Estranho
seria se assim não fosse.
A minha paixão pelo futebol vai
resistindo mal aos maus tratos que vai recebendo. São recorrentes e
progressivamente mais radicalizados e violentos os comportamentos e discursos
que o envolvem para além da componente negócio que também desempenha um papel importante
no clima criado.
A espiral de gravidade dos
episódios que já se anunciava começa a confirmar-se da irracionalidade e do
ambiente de hostilidade e ódio instalados. Os mais recentes episódios
envolvendo as claques e as direcções do Benfica, Porto e Sporting mas não só
mostram quão próximo podemos estar acontecimentos ainda mais graves.
Há algum tempo a imprensa referia
(desejava) que os clubes, leia-se as suas direcções, pudessem tomar medidas
face ao comportamento de alguns, muitos, energúmenos que fazem parte das suas
claques.
É no mínimo ingénuo acreditar
nisto. As direcções e os seus empregados e porta-vozes, os seus discursos,
comportamentos e decisões são também parte substantiva do problema, não podem
ser parte da decisão.
A mediocridade da generalidade
dos dirigentes produz discursos e comportamento que inflamam muitos dos
apoiantes, apoiam e organizam as suas actividades. Servem-se deles para os
jogos de poder e devem-lhes isso.
É um mundo em que não existem
santos e pecadores. Talvez a bola seja o elemento mais são deste universo
apesar de tantas vezes também ser maltratada.
Já dificilmente me mobilizo para
ir a um estádio, não consigo assistir aos milhentos programas televisivos onde
opinadores avençados, salvo algumas raras excepções, vão papagueando agendas
encomendadas e se envolvem em obscenas trocas de agressões e boçalidades que
são mais um alimento para o clima instalado de ódio, hostilidade e
agressividade.
O problema é que não consigo não
continuar fascinado com esse jogo estranho chamado futebol. Por isso me
inquieta tudo isto. Não dêem cabo do futebol.
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