Como tanto gostamos de dizer, meteu-se o Natal e agora mete-se o Ano Novo.
Os dias que medeiam entre o Natal e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, um conjunto de características muito particulares. Fico sempre com a sensação de que os vivemos como não dias. Pode parecer uma ideia estranha mas vou tentar explicar.
Os dias que medeiam entre o Natal e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, um conjunto de características muito particulares. Fico sempre com a sensação de que os vivemos como não dias. Pode parecer uma ideia estranha mas vou tentar explicar.
Logo depois do Natal, ainda a recuperar do espírito
natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da azáfama das prendas,
dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos excessos. Acresce para
muita gente o problema das trocas, ou porque já tinham o que receberam ou porque, por várias razões, não serve o que receberam.
Para que se não saia dos espaços comerciais o ânimo
recupera-se entrando de imediato na época de saldos, descontos, promoções ou
outra qualquer designação apelativa a mais umas compras. Trata-se do efeito
terapêutico do mercado e do consumo.
Deste estado, passamos para os dias de aproximação ao Ano
Novo que, independentemente do que de menos bom possamos racionalmente esperar,
vivemos com a esperança de que seja mesmo novo e, sobretudo, Bom.
Iremos certamente trocar inúmeras mensagens e votos noutra
azáfama que aparenta assentar numa ideia mágica dos tempos de miúdo que nos
parece fazer acreditar em que se assim procedermos, o Ano Novo vai ser mesmo
Novo e, repito, Bom. De tanto falarmos nele, ele vai convencer-se de que terá
mesmo que ser assim.
É certo que de há uns tempos para cá, como devem ter dado
por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja Bom, ou até mesmo que
não seja pior do que este. Já era bem bom, por assim dizer.
É também muito provável que nos últimos dias do próximo
Dezembro, o de 2018, estaremos com o mesmo sentimento a enunciar os mesmos
discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa está a mudar.
Alguns de nós tentarão de forma mais ou menos dispendiosa ou
criativa encontrar uma maneira feliz e divertida, assim a entendemos, de entrar
no Ano Novo. Pode até nem ser muito divertida mas vai parecer com toda a
certeza. Este ano, talvez possa até já ser um pouco menos comedida nos custos,
dizem que a coisa está um bocadinho melhor.
No entanto, como se sabe a crise quando nasce não é para
todos e haverá réveillons para todas
as bolsas. Acresce que muitas autarquias no seu espírito de missão e de serviço
ao cidadão proporcionarão fantásticos espectáculos de fogo-de-artifício e
música para que toda agente possa receber o Ano Novo sem grande custo.
O problema mais sério é que a 2 de Janeiro está aí o Ano
Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para muita outra gente não será
Bom, longe disso.
Mas para um povo sereno e de brandos costumes como nós, haja
saúde que é o principal, no resto … Bom, no resto … algum jeito se há-de dar.
Bom Ano.
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