Um dos muitos indicadores
constantes do Relatório do CNE, “Estado da Educação 2016”, que merece reflexão
e que alguma imprensa ontem abordou prende-se com o abaixamento da frequência
da educação pré-escolar em particular por crianças de quatro e cinco anos entre
2012/2013 e 2015/2016 passou de 97,9% em 10/11 para 94,8% em 15/16.
As razões para tal podem
prender-se, teria de ser confirmado, com os custos demasiado altos para muitas
famílias da frequência de estruturas de educação pré-escolar.
No entanto, são mais conhecidos
os efeitos positivos da sua frequência por parte das crianças, daí a
preocupação com este abaixamento.
Recordo um trabalho de 2016 do DN
que referia a existência de milhares de crianças em lista de espera para
creches e jardins-de-infância no chamado sector social em as mensalidades são
indexadas aos rendimentos familiares. Esta situação afecta sobretudo zonas mais
urbanas e a alternativa da resposta privada é inacessível para muitas famílias.
Ainda segundo a peça do DN existiriam instituições em que o número de
candidaturas é oito vezes superior à capacidade de resposta.
Talvez os dados agora divulgados concretizem
esta situação que merece a maior atenção.
Apesar do actual governo de
garantir o acesso à educação pré-escolar aos três anos e criar respostas
acessíveis, física e economicamente, às famílias para as crianças dos zero aos
três algo de imprescindível e urgente o caminho é complicado e requer
provavelmente medidas mais sólidas, na criação de respostas e nos apoios às
famílias.
Sabemos todos como o
desenvolvimento e crescimento equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente
influenciado pela qualidade das experiências educativas nos primeiros anos de
vida, de pequenino é que ...
Assim, existem áreas na vida das
pessoas que exigem uma resposta e uma atenção que sendo insuficiente ou não
existindo, se tornam uma ameaça muito séria ao futuro, a educação de qualidade
para os mais pequenos é uma delas.
No entanto, como há algum tempo
escrevi no Público, a educação pré-escolar é bastante mais que a “preparação”
para a escola e não deve enredar-se no entendimento de que é uma etapa na qual
os meninos se preparam para entrar na escola embora se saiba do impacto
positivo que assume no seu trajecto escolar.
Na verdade, as crianças estão a
preparar-se para entrar na vida, para crescer, para ser. A educação pré-escolar
num tempo em que as crianças estão menos tempo com as famílias tem um papel
fundamental no seu desenvolvimento global, em todas as áreas do seu
funcionamento e na aquisição de competências e promoção de capacidades que têm
um valor por si só não entendidos como uma etapa preparatória para uma parte da
vida futura dos miúdos, a vida escolar. Curiosamente o Ministro da Educação em entrevista escrita ao JL fala do "Ensino Pré-escolar".
Este período, a educação
pré-escolar, cumprido com qualidade e acessível a todas as crianças, será, de
facto, um excelente começo da formação institucional de cidadãos. Esta formação
é global e essencial para tudo que virão a ser e a fazer no resto da sua vida.
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