A Imprensa de hoje refere o
habitual Relatório anual do Conselho Nacional da Educação, “Estado da Educação
2016”, que ainda não parece disponível no "site" pelo que algumas notas sobre um dos
tópicos divulgados pela imprensa e que tem sido matéria sempre presente nos últimos
relatórios, a “simpatia” e “generosidade” de algumas escolas que inflacionam as
notas dos seus alunos. Dentro do padrão habitual, a maioria das situações
ocorre em estabelecimentos privados.
Muitas vezes aqui tenho referido
esta questão e vou repetir-me. Sendo certo que entre as escolas “simpáticas”,
as que inflacionam as notas, predominam as escolas privadas, é evidente que no
caso das escolas em que os alunos obtêm melhores resultados nos exames que nas
avaliações internas predominam habitualmente as públicas, ou seja, o “facilitismo” das
escolas públicas que alguns apregoam não será assim tão claro.
Também foi divulgado já em 2016 a
abertura de alguns inquéritos cujos resultados desconheço
É público que em muitas zonas as
escolhas de escola, sobretudo privadas mas também públicas, se decidem também em
função deste conhecimento. Deve ser a isto que se chama liberdade da educação.
Aliás, curiosamente, segundo os
dados do estudo da Universidade do Porto é justamente nos colégios sem contrato
de associação, os que recebem “apenas” os alunos que entendem, que as notas
internas são mais “inflacionadas”, por assim dizer. Aliás, uma investigação da
Universidade do Porto mostrou como um ou dois valores a mais podem “valer” a
entrada na universidade ou no curso que se quer.
Os responsáveis pelas escolas em
que o “fenómeno” é mais evidente tentam explicá-lo de formas diferentes e em
alguns aspectos até bastante curiosas, projecto pedagógico ou educativo da
instituição, entendimento diferenciado sobre o próprio papel da avaliação
interna, etc. No mesmo sentido, o Director da Associação de Estabelecimentos de
Ensino Particular e Cooperativo, sempre criativo, apresentou há algum tempo uma
justificação em torno de "estratégias pedagógicas" que é uma peça de
antologia.
Ainda no domínio do que se passa
no âmbito das avaliações internas seria interessante verificar o que acontece,
sobretudo em estabelecimentos privados, nas disciplinas não sujeitas a exame
nacional.
No entanto, do meu ponto de
vista, afirmo-o de há muito, a questão central radica numa questão central, a
conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao
ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se,
conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o
trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente,
está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam também as outras
modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como é o caso do
ensino artístico especializado ou recorrente em que também se verificam algumas
"especificidades", por assim dizer.
O acesso ao ensino superior é um
outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar
sob a sua tutela.
A situação existente, não permite
qualquer intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus alunos,
a não ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o que até
torna estranha a passividade aparente por parte das universidades e
politécnicos, instituições sempre tão ciosas da sua autonomia. Parece-me claro
que o ensino superior fazendo o discurso da necessidade de intervir na selecção
de quem o frequenta não está interessado na dimensão logística e processual
envolvida.
Os resultados escolares do ensino
secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com
outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de
ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o
processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do
facto da média de conclusão do ensino secundário ser o único critério utilizado
para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas inflacionadas
em diversas circunstâncias.
Enquanto não se verificar a
separação da conclusão do secundário da entrada no superior corremos o risco de
lidar com situações desta natureza embora a transparência as possa minimizar.
Será que se chegará a algum
entendimento sobre esta questão?
PS - Agora o Relatório já está disponível
PS - Agora o Relatório já está disponível
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