Segundo os dados disponíveis do INE a taxa de risco de pobreza na velhice tem subido e a actual situação de crise potencia exponencialmente esse risco. No ano passado, de acordo com o Eurobarómetro sobre os impactos sociais da crise, os portugueses tinham como preocupação fundamental a pobreza, 91% dos inquiridos, e a velhice, 69% dos inquiridos.
Como é evidente o contexto de vida actual é ameaçador da qualidade de vida de boa parte da população idosa que já de há muito carrega um fardo pesado de carências severas suportadas por pensões e reformas, em alguns casos, insustentavelmente baixas..
Temos vindo a assistir a um acréscimo de dificuldades das organizações de solidariedade social no providenciar de apoios às dificuldades crescentes da população, sobretudo à mais idosa, e retorna a mendicidade ou o bater à porta das instituições, porventura de forma mais envergonhada e a atingir camadas diferentes.
Muitas vezes trata-se de gente que integra um grupo que designo por transparente, ou seja, os que preferimos não ver. São pessoas, geralmente, velhos ou desempregados, com olhos tão tristes e tão pesados que até dói enfrentar. Assumem uma postura tão despojada e embaraçada que nos deixam mais embaraçados. Muitos deles conseguem, ainda, evidenciar uma dignidade tão estranha que nos intimida e se torna difícil suportar. Este grupo, que, muitas vezes, “recusamos” ver e evitamos cruzar o seu caminho, daí chamar-lhe transparente, é, sobretudo, a face gritante do falhanço mais estrondoso do mundo actual, a pobreza.
E, como sabemos, não é fácil assumir e encarar os nossos falhanços, condição primeira para a mudança.
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