segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A IRREVERSIBILIDADE DE UM MAU COMEÇO

O JN de hoje aborda uma matéria, com chamada à primeira página, que já há alguns dias aqui referi e que me parece preocupante, as famílias de alunos com direito ao apoio social escolar devem proceder à aquisição dos manuais escolares e, posteriormente, aguardar o reembolso.
Apesar de alguma redução do número de alunos apoiados, devida aos cortes nos apoios sociais, existem largos milhares de alunos envolvidos nesta situação. É conhecida a significativa degradação das condições de vida de muitas famílias levando a um aumento exponencial, por exemplo, de pedidos de assistência alimentar.
Neste cenário, é quase certo que uma boa parte das famílias sentirão a maior das dificuldades para assegurar a compra dos manuais escolares acrescida dos incontornáveis e, muitas vezes, desnecessários, cadernos de exercícios, de actividades, etc., para além, é claro, da lista sem fim de outros materiais cujo preço total ultrapassa, em média, mais de 200 €. Algumas escolas desenvolvem iniciativas junto de fornecedores criando uma espécie de linha de crédito procurando minimizar as dificuldades das famílias mas, no entanto, o problema persiste e é grave.
Sabemos também que muito do trabalho em sala de aula assenta, do meu ponto de vista excessivamente, na utilização do manuais, costumo referir-me a um ensino demasiado "manualizado".
De todo este quadro resulta uma situação em que muitos alunos poderão começar as aulas sem os materiais que a escola entende como necessários às aprendizagens o que, obviamente, compromete o bom arranque do ano lectivo e, portanto, o sucesso desejado. O insucesso educativo continua a ter uma forte marca de classe, atingindo, sobretudo, os grupos mais vulneráveis.
A situação que parece vir a instalar-se será um bom contributo para a manutenção deste enunciado.
Em educação é muito difícil combater a irreversibilidade de um mau começo.

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