terça-feira, 2 de agosto de 2011

A IGREJA E A CONDIÇÃO FEMININA

Na mesma semana em que se produziram inúmeros discursos registando o facto de a Presidência da Assembleia da República ser pela primeira vez assumida por uma mulher, Assunção Esteves, D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa, afirmou que as mulheres só serão ordenadas quando Deus quiser, o que me parece significar, nunca, pois os homens, o poder dentro da igreja, não quererão, esperam que seja Deus querer.
No entanto, na mesma entrevista D. José Policarpo afirmou não existirem obstáculos teológicos à ordenação das mulheres. Esta afirmação tem causado sérios embaraços na hierarquia do Vaticano levando, quer a um recuo do Patriarca, quer a uma chamada ao Vaticano para esclarecimento, ou seja, "puxão de orelhas".
Curiosamente, há já algum tempo D. José Policarpo avisou ser necessário ter cuidado com os muçulmanos pois as meninas europeias correm o sério risco de arranjar um monte de sarilhos ao casarem-se com a gente de Alá. Apesar de defensor do diálogo inter-religioso, D. José Policarpo alerta para as especificidades religiosas e para as suas implicações, por exemplo, ao nível da condição feminina.
É importante este aviso e esta preocupação.
Estranho, no entanto, as sucessivas posições da igreja desfavoráveis ao divórcio quando, manifestamente, a família não funciona e estranho o entendimento de que as pessoas divorciadas percam “direitos” de natureza religiosa. Estranho o imobilismo face à discriminação do acesso das mulheres ao sacerdócio agora reafirmado colocando a decisão nas insondáveis mãos de Deus. Estranho o ruidoso silêncio sobre maus-tratos e violência doméstica dirigidas a mulheres, à luz do princípio de que “há que proteger a família”. Estranho as posições da igreja face à interrupção voluntária da gravidez e da contracepção, que, frequentemente, estão na base de situações de grande sofrimento para as mulheres e, eventualmente, para muitas crianças.
É velha a presunção de superioridade religiosa, apenas se actualizam os discursos. Talvez também seja por esta aparente incapacidade de ajustamento a tempos que são diferentes que se regista um progressivo afastamento, designadamente entre os mais novos, das convicções religiosas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lamentavelmente as convicções religiosas cada vez mais se afastam das necessidades espirituas dos jovens. E dos menos jovens.

As cada vez mais igrejas que proliferam por todo o lado, como se estruturas muito necessárias, estão vazias, as certezas que cegaram gerações, estão gastas e esfarrapadas. Ganhamos o acesso à cultura, ao conhecimento, e quem ficou a perder foi uma religião que muito usufruiu da ignorância dos fieis.

O último resquicio eram as mulheres, o feminino sempre levado a ser encarado como pecaminoso, como introdutor de "tentação". Hoje, também nós mulheres, pensamos.

E hoje, a igreja é a única cega ao que se passa à sua volta.

Zé Morgado disse...

Na verdade ...
concordo consigo.