segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ESTOU DESCANSADO, ESTÁ NO COMPUTADOR

No DN de hoje está uma interessante entrevista com a escritora Alice Vieira. Entre outras preocupações emerge a referência aos estilos de vida de muitíssimas famílias que levam a que as crianças, para além do tempo enorme que estão na escola, passem demasiado tempo rodeadas de máquinas (ecrãs) e menos de pessoas. Já por diversas vezes me tenho referido a esta questão que, creio, merece alguma reflexão.
Segundo um estudo de há pouco tempo no âmbito do Projecto EU Kids, 38 % das crianças dos 9 aos 12 anos têm perfis nas redes sociais enquanto que na faixa dos 13 aos 16 a percentagem sobre para 78 %. Acresce que cerca de um quarto tem perfil público, portanto acessível a qualquer pessoa.
Antes de umas notas breves parece-me interessante recordar que segundo um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa há algum tempo divulgado sobre a utilização da net por parte de crianças e adolescentes, entre os mais novos, dos 8 aos 10 anos, 35.7% afirma que utilizam a net em casa sem regras estabelecidas, sendo que 42% também refere que não têm controle dos pais sobre páginas consultadas e correio electrónico. São também conhecidos estudos que sugerem uma estadia média diária em frente a um ecrã de cerca de 4h para as crianças portuguesas, número que sobe ao fim de semana.
Estes dados, apesar de não surpreendentes, são preocupantes. Muitas vezes já aqui tenho referido como o ecrã, qualquer ecrã, é hoje a “baby-sitter” de muitíssimas das nossas crianças e adolescentes que neles, ecrãs, passam um tempo enorme “fechados”, às vezes "acompanhados" de outros miúdos tão abandonados quanto eles. Como também sabemos, parte importante desse tempo é passado só, facilitando a falta de controlo sobre a utilização do ecrã, neste caso a net. A situação é ainda agravada pelo facto de em muitas das nossas famílias se verificar alguma iliteracia informática que também complica a possibilidade dos pais aceder e dominar a utilização dos recursos informáticos. Neste quadro, importa que o acesso e domínio destes meios seja estimulado juntos dos pais, que os programas de net segura, sejam reforçados, e que pelas vias da educação a tempo inteiro (não confundir com escola a tempo inteiro) e de mudanças na organização do trabalho, se diminua o tempo que as crianças e adolescentes passam, sós, ligados a um ecrã.
Considerando as implicações e nos sérios riscos presentes na vida diária, importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda, em informação e na forma de lidar com os riscos, destinada aos pais de forma a que a utilização imprescindível seja regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes.

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