Embora a escrita que vou deixando no Atenta Inquietude sempre remeta para a realidade nacional, a recente tragédia de Oslo e agora a turbulência que se vive em Inglaterra, levam-me a algumas notas que reconstruo a partir de um texto que há dias intitulei "Incubação do mal".
Na altura, para além do sentimento de dor e perda, creio que perplexidade será o que melhor caracterizaria a sociedade norueguesa nestes dias e estava patente nos testemunhos ouvidos na imprensa. Porquê? Porquê na Noruega, comunidade aberta, tolerante e segura? Porquê um norueguês e não um terrorista associado a redes conhecidas? Porquê? Porquê?
A dificuldade de responder a estas questões é da mesma ordem da dificuldade de encontrar meios seguros de evitar tragédias deste tipo. O episódio, com contornos semelhantes ao protagonizado por Timothy McVeigh que em Oklaoma, em 1995, causou 180 mortos e mais de 600 feridos, assumido por uma só pessoa, inteligente, socialmente integrada, numa sociedade aberta é, de facto, muito difícil de prevenir.
Agora a situação em Inglaterra traz como fenómeno "novo" que deixa toda a gente perplexa e sem saber muito bem como reagir ou intervir, o envolvimento de crianças e adolescentes em comportamentos surpreendentes pelo grau de destruição e pela ausência de controlo. Os comportamentos observados assemelham-se grotescamente a um videojogo violento com personagens reais.
A questão que me leva a estas notas é mais no sentido de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar contornos que identificam os alvos, por vezes difusos, sentidos com os causadores desse mal-estar.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva possa drenar esse mal estar, nessa altura já ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio num liceu, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou o ataque a uma concentração de jovens de um partido que representa o "mal" ou a vinda para a rua numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
Por mais policiada que seja uma sociedade é extraordinariamente difícil prevenir processos desta natureza em que o mal se vai incubando e em que as ferramentas de acção são acessíveis.
Como bem têm afirmado as autoridades norueguesas, a questão não é abdicar da abertura e da tolerância que caracteriza a sua, nossa, sociedade elevando o policiamento das comunidades a níveis asfixiantes. A questão, este tipo de questões, a iniciativa individual de natureza terrorista, ou os movimentos grupais descontrolados e reactivos, passará sobretudo por uma permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Na Noruega, na Inglaterra, nos Estados Unidos ou em Portugal.
2 comentários:
Não pretendo dizer nada de novo.
CAPITALISMO=
Ferocidade
sofreguidão
insaciabilidade do lucro exponencial
Não vale a pena descarregar culpas em grupos organizados que desencadeiam esta agitação para assaltar e saquear. Estes grupos surgem depois da confusão instalada e provocada por jovens desesperados pela total ausência de projectos de vida que lhes mostrem uma nesga de esperança no presente e no futuro.O neoliberalismo instalado no nosso Continente vai pôr a Europa a ferro e fogo. Vai afundar a Europa. A história repete-se!
Só depois do caos virá uma sociedade de rosto humano.
Eu não queria que assim fosse, mas...
saudações
Tretas, o que eles querem é tudo o que sempre tiveram e agora pode ser que venham a não ter, e eu acho muito bem. Não há ideologia, não existe sentido de pertença a nenhum sítio, a não ser ao seu grupo. Portanto não tentem explicar o que não tem explicação, È O PORQUE SIM...
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