O Cajó acordou a pensar em ir à praia, trabalhar para o bronze, como ele diz. O Cajó é um rapaz meu amigo que é mecânico e faz uns biscates para a malta do chunning (que é o tunning de quem não tem dinheiro). Acordou a Odete e disse-lhe para ela pôr na geleira umas “mines”, uns “semóis” para os miúdos e umas sandes, que iam todos para a praia. Tinham que ir cedo porque é Domingo e o pessoal vai todo para a praia.
Não começou muito bem porque o Punto não queria pegar e o Tólicas, o mais velho, não encontrava a bóia que tinham dado no Lidl. Chegaram à Ponte e, para ajudar, levaram uma hora para a atravessar. Já estava a começar a desatinar, mas a Micas, a mais nova, lá se calou e adormeceu. Finalmente chegou à Costa e teve sorte, arranjou um lugar para estacionar embora a tapar a saída a outro carro. Mas o Cajó achava que o gajo do carro era capaz de só sair depois deles e, portanto, “tá-se bem”.
Na praia, estava maré cheia e o espaço não abundava. Assim, pediu desculpa a um casal simpático que estava ali, afastaram-lhe as toalhas e estendeu as toalhas para a família toda. A geleira ficou debaixo do chapéu-de-sol que dizia Sporting, uma oferta do cunhado, um ganda lagarto. Para aquecer um bocado, e porque já não aguentava o cheiro da Odete toda besuntada para se estender ao sol, foi jogar à bola com o Tólicas. Mas como havia muita a gente, estava chato para jogar, porque estavam sempre a acertar com a bola nuns velhos que nem se desviavam, parecia que faziam de propósito para arranjar confusão. Foram então ao banho, mas a água estava fria “como ó caraças” e resolveu estender-se ao sol um bocado. Então o Cajó reparou que, pertinho, estava uma miúda “boa comó milho”, pôs-se mais a jeito, e para disfarçar, que a Odete é ciumenta “à brava”, enfiou os óculos escuros, por acaso muito giros, marca Ray-ban, que tinha comprado no mercado por 5 euros a um indiano. Às tantas, a Odete topou que ele não tirava os olhos da miúda do lado e armou uma peixeirada das antigas. Ficou o caldo entornado, comeram as sandes e o Cajó mandou arrumar a tralha para não apanhar bicha na Ponte. Quando chegou ao carro, quase que se pegou à pancada como o dono do carro que estava entalado e já estava à espera, disse ele, há uma hora. Lá se acalmaram.
No regresso, toda a gente deve ter pensado como o Cajó. Gastou mais uma hora e tal mas lá conseguiu chegar a casa, os putos todos amassados a dormir no banco de trás do Punto, a Odete com umas trombas pior que a mãe.
O Cajó ainda pensou para consigo, "Mas quem é que me mandou ir prá praia, porra. Tinha ido, sozinho, dar uma volta até ao Centro Comercial, via as miúdas à mesma, bebia umas imperiais, estava fresquinho, não gastava gasolina e não me chateava”.
3 comentários:
Gosto das histórias do Cajó. Penso que é um espelho de muito boa qualidade de certa classe social portuguesa retirando o pormenor do estacionamento.Os Cajós (salvo raras excepções) têm medo de levar nas trombas.
Este poste trouxe-me uma novidade.
Fiquei a saber que o Cajó reside na margem norte.
Fiquei mais descansado!
saudações
ora aí está uma das razões porque não vou à praia em agosto, mesmo morando a 5 minutos... a ida para o trabalho tem sido uma calmaria, 20 min de casa ao outro lado de lisboa...será errado/estranho/egoísta alegrar-me por este ano se pagar portagem na ponte 25 de abril?
cumprimentos
No meio do que existe, a portagem na ponte em Agosto não passa de peanuts, por outro lado há sempre um Cajó à nossa espera, é só estar atento, alguns até chegam a pessoas "importantes"
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