quinta-feira, 3 de março de 2011

JOGAR ÀS ESCONDIDAS

No tempo em que se brincava na rua jogar às escondidas era uma das actividades preferidas. Um ficava no "coito" (era assim mesmo que lhe chamávamos) de olhos tapados, contava até 31, os outros escondiam-se e depois da contagem começava a procura. Cada um dos escondidos tentava chegar ao "coito" sem ser apanhado pelo procurador. O último que fosse descoberto ficava a "amochar".
Hoje de formas bem mais sofisticadas e com outros contornos ainda temos miúdos que continuam o jogar às escondidas. Como muitos substituíram a rua pelas actividades extracurriculares e mais os ATLs e mais as oficinas e mais o banco de trás dos carros dos pais ou as carrinhas dos transportes escolares, os esconderijos mudaram muito.
Alguns, os mais dados às novas tecnologias escondem-se, por exemplo, dentro dos ecrãs que fazem parte da sua vida, dentro de uns fones com o som bem alto ou agarrados a um telemóvel que os ligue a outros escondidos e ficam à espera que ninguém os encontre.
Um outro grupo esconde-se, submerso pela onda das muitas actividades que são importantíssimas para o seu desenvolvimento e nas quais se vêem envolvidos ao longo de dias que não têm fim de tão compridos. É árduo o caminho para a excelência que lhes exigem.
Existe também alguma miudagem que se esconde no meio do grupo, diferentes grupos, que constitui uma excelente forma de camuflagem e protecção.
Há ainda um grupo pequeno e nem sempre discreto de miúdos, mais ou menos crescidos se escondem em comportamentos de que muitos verdadeiramente não gostam mas que os mascaram de figuras que eles não são mas atrás das quais tentam sobreviver. Estes miúdos são, normalmente muito conhecidos por fora mas, por vezes, completamente desconhecidos por dentro, estão escondidos.
Reparem quantos miúdos estão escondidos em instituições, tão escondidos que não existe família que os encontre.
Reparem finalmente quantos miúdos escondem e se escondem em vidas de sofrimento e negligência.
De vez em quando nós, os mais crescidos, podíamos entrar no jogo e ir à procura deles, dos escondidos. Era melhor descobri-los.

1 comentário:

anónimo paqz disse...

Álcool, tabaco, sexo e drogas: são as dependências mais conhecidas e censuradas pela sociedade.
Mas há outros vícios comumento aceitos que podem ser igualmente nocivos: a dependência do telemóvel, do computador, da internet dos games.
Essas manias não são tóxicas mas reduzem a liberdade e alteram o comportamento social dos jovens e adultos. E são muito frequentes.
Aqui é que reside o perigo: O FILHO ESCONDE-SE E O PAI FICA SEM TEMPO PARA PROCURAR O FILHO.

Mas considero que como em qualquer outra área, há coisas positivas como também negativas.
Penso que os pais devem sempre estar atentos, mas não adianta adoptar um comportamento repressor e sim o diálogo. A supervisão é muito importante.
No meu tempo de jovem os pais não tinham essa preocupação: a tecnologia resumia-se apenas a um simples interruptor.

Que saudades eu tenho do título do seu texto!...

Os seus miúdos escondidos nunca jogaram ao:


PARE OU IMPAR
POLÍCIAS E LADRÕES
CÓBOIS E ÍNDIOS
CARICA
PIÃO
BERLINDE
CABRA-CEGA
e muitos outros jogos.Porque se jogassem estariam bem visíveis!

saudações