No I de hoje os resultados já conhecidos e produzidos pelo Observatório dos Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário e Gabinete de Estatísticas e Planeamento da Educação são comentados e enfatiza-se algo que desde sempre tem sido constatado no âmbito da sociologia da educação e da análise dos resultados escolares, a relação fortíssima entre o sucesso escolar dos filhos e o nível de escolaridade dos pais.
Mais uma vez se comprova que ao nível, neste caso, do 12º ano, os filhos de pais com maior nível de qualificação escolar são os que, de uma maneira muito evidente, apresentam notas mais altas. Sabe-se ainda que as notas mais baixas e os "chumbos" também evidenciam uma marca de classe muito significativa, atingem de forma mais nítida os agregados familiares com nível de escolaridade mais baixo. Nada de novo, portanto.
De qualquer forma creio que se justificam três notas telegráficas.
Em primeiro lugar sublinhar algo que por vezes se esquece, esta forte associação entre o sucesso e o insucesso escolar dos filhos não determina uma relação de causa e efeito, apenas mostra uma relação estreita mas não obrigatória. Aliás, o título da trabalho no I ao afirmar que as melhores notas "dependem" dos pais refere essa inexistente relação de causa e efeito.
Desta óbvia constatação decorre uma segunda nota e que já aqui tenho referido, a escola não está a conseguir ser eficaz na tentativa de ser a mais eficaz ferramenta de mobilidade social, ou seja, os que alunos oriundos de famílias menos escolarizadas são os que tendencialmente obtêm resultados mais baixos, chumbam ou abandonam dificultando a sua mobilidade para patamares de maior qualificação e, por isso, o acesso melhores níveis de bem-estar.
Finalmente, esta relação entre a qualificação dos pais e o sucesso escolar dos filhos é, do meu ponto de vista, mais uma razão para que, como recorrentemente aqui defendo, se promova a qualificação escolar das pessoas e se combatam mensagens e discursos, implícitos ou explícitos, de que estudar "não vale a pena", os "licenciados não têm futuro", "são a geração à rasca", etc. Os mais jovens de hoje vão ser os "pais" de amanhã e, naturalmente, é melhor ter pais mais qualificados.
A qualificação que se obtém, através dos percursos escolares continua a ser uma alavanca, a melhor alavanca, de desenvolvimento e construção de projectos de vida viáveis e positivos.
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