segunda-feira, 28 de março de 2011

A GENTE TEM QUE ENCARREIRÁ-LOS

Uma viagem hoje realizada por uma estrada que em tempos foi muito bonita de fazer e que actualmente é pouco menos que assustadora, o IP3, levou-me a parar para uma bica num café ali para os lados de Penacova. A senhora do café e a unica cliente antes de entrarmos, já avó deu para perceber pelo excerto a que assisti, discorriam sobre o trabalho e a necessidade de trabalhar.
A senhora do café defendia que a grande justificação do trabalho era "encarreirar os filhos", era o que ela tentava esforçadamente fazer com a miúda e o gaiato seus filhos. Depois de os "encarreirar" então já se pode descansar um pouco e viver os dias.
A cliente avó discordava, os pais nunca iriam descansar porque os filhos mesmo encarreirados continuam sempre a precisar dos pais.
A senhora do café acabou por concordar e mudou um pouco a direcção da conversa para as dificuldades de encarreirar os filhos hoje em dia. Ela, contava, tinha começado a trabalhar aos doze anos e hoje ninguém quer e pode começar a trabalhar tão cedo. Mesmo mais velhos, como o filho dela que já tem dezassete anos, "não sabem fazer nada". Por isso é que é tão difícil encarreirá-los e chegar ao merecido descanso de viver os dias, apesar de continuar a preocupação com os filhos, como defendia a cliente avó.
O meu café esgotou-se, tinha que me fazer à estrada e não sei o desenvolvimento da narrativa.
De qualquer forma, trouxe dois retratos de uma parte da nossa realidade social, o das mulheres cujo destino é serem mães, trabalhar para "encarreirar" os filhos e depois, se possível, viver os dias e o da geração que "não sabe fazer nada", depende do encarreiramento por parte dos pais.
Já tenho ouvido especialistas que se revelam bastante menos elucidativos.

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