terça-feira, 15 de março de 2011

HISTÓRIAS PARALELAS

Primeira história - Era uma vez um Rapaz que nasceu em 15 de Fevereiro de 1976. Os pais, um bem sucedido empresário e uma professora, receberam com renovado carinho o seu terceiro filho. Entrou no colégio previsto, em que os irmãos já tinham estudado e onde, como era hábito na família, foi um excelente aluno. Muito bom comunicador e com excelente capacidade argumentação o Rapaz não seguiu as pisadas dos pais e seguiu uma carreira em direito. Devido às suas capacidades de comunicação e interesse pela intervenção cívica, habitual na família, entrou ainda na adolescência para a organização da juventude de um grande partido, onde teve uma ascensão significativa e na altura em que terminou a sua formação, foi-lhe oferecido um lugar de assessor num gabinete ministerial. Paralelamente, prosseguiu os seus estudos, doutorando-se dando início a uma promissora carreira de professor universitário, sempre mantendo um lugar de conselheiro próximo da liderança do partido político em que continua envolvido. Entretanto, casou com uma jovem formada na área da gestão e filha de um conhecido empresário com dimensão internacional. Vivem numa confortável e espaçosa casa num condomínio razoavelmente exclusivo. Nesta altura aguardam ansiosamente a chegada do terceiro filho que, tal como os irmãos, irá frequentar o colégio onde os pais estudaram.

Segunda história - Era uma vez um Rapaz que nasceu em 15 de Fevereiro de 1976. Os pais, surpreendidos e aflitos por mais uma boca para alimentar conseguiram que uma tia o aceitasse para criar. Entrou na escola do bairro chamado "social" onde vivia e quando acabou o período da escolaridade obrigatória abandonou definitivamente a escola carregando um currículo de chumbos sucessivos e problemas disciplinares. Juntou-se a um grupo de rapazes com narrativas semelhantes e dedicou-se a uma vida que oscilava entre o biscate indiferenciado, a pequena delinquência e o consumo que alimentava a adrenalina. No final da adolescência a rapariga do bairro com quem namorava engravidou e foi também viver com o Rapaz para casa da tia. A chegada inesperada e indesejada da filha criou novas dificuldades. Por imposição da Segurança Social como condição para receber imprescindíveis apoios sociais o Rapaz foi frequentar um curso do Programa Novas Oportunidades acedendo ao 9º ano. Actualmente, continua a viver dos apoios sociais, mais baixos por causa da crise, dos biscates indiferenciados e da pequena delinquência, mas todos os dias vai levar a filha à escola do bairro social em que continua a viver. A mãe da filha há já alguns meses que saiu de casa e não mais foi vista no bairro. Consta que foi para o norte, para casa de uns padrinhos.

Há vidas assim, como as rectas paralelas. São definidas no mesmo plano mas nunca se cruzam.

1 comentário:

Anónimo disse...

O primeiro tem uma crise existêncial e vai ao psicanalista, o segundo apanha com um psicólogo estagiário.

Abraço
António Caroço