O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência afirmou, segundo o Público, no encontro Acção Europeia sobre a Droga a decorrer em Lisboa, que as grandes acções mediáticas sobre prevenção podem ter “efeitos inesperados” ou até “contraproducentes”. Sustenta como mais eficazes as acções que tenham como alvo populações específicas, citando o exemplo, ao que parece bem sucedido, das comunidades escolares.
Não conheço os indicadores que sustentam a posição do Dr. João Goulão mas creio que se justificam algumas notas.
Em primeiro lugar, acontece com alguma frequência que as grandes campanhas mediáticas em torno de um qualquer fenómeno se constituem como uma forma de gastar de forma relativamente simples meios disponíveis com a vantagem de proporcionar maior visibilidade aos promotores. Muitas vezes não se conhecem estudos sólidos que ajudem a perceber o impacto destas acções e a sua justificação. Por outro, de há muito se sabe que acções de maior proximidade e dirigidas a grupos sociais identificados e mais vulneráveis a comportamentos de risco em várias áreas tendem a ser genericamente mais eficazes, sendo, no entanto, certo que, por falta de impacto mediático, darão menos dividendos aos promotores. A propósito desta intervenção de maior proximidade na prevenção, deve lembrar-se que os cortes orçamentais em curso levaram o IDT a dispensar centenas de técnicos e a fechar unidades de atendimento locais cuja actividade era fundamental.
Dito isto, importa, no entanto, sublinhar que o discurso geral e mediatizado globalmente sobre estas matérias deve estar presente e ser bem abordado. O facto de eventualmente se correr o risco, que gostava de ver objectivado, de efeitos perversos não elimina a necessidade da sua abordagem. No limite, poderíamos cair nos discursos de alguns pais que recusam programas de educação sexual ou de prevenção dos consumos porque os seus filhos nunca falam nisso e ao ouvirem falar podem sentir-se tentados.
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