sexta-feira, 4 de março de 2011

O CRIME DA DECLARAÇÃO DE AMOR

Hoje, quase por acaso de tão despercebida que estava, vi uma notícia que me deixou a pensar. É daquelas notícias que nem se pode dizer que são uma notícia, são, por assim dizer, uma história, mesmo uma historiazinha, no caso uma história com amor.
Um jovem de Peniche, o Nuno, em 2008, certamente por enamoramento como diria Alberoni, escreveu uma declaração de amor à sua amada. Como vêem começa bonita a história.
Mas as histórias bonitas também têm percalços. O Nuno entendeu por bem escrever o seu afecto na parede da escola secundária.
Levanta-se a complicação, nas escolas as mensagens escritas devem ser realizadas nos cadernos, no quadro das salas ou convertidas em SMS e não devem ser de amor, não consta dos programas. Mas o Nuno, a paixão empolga e dá uma felicidade que é demais para ser vivida só, quis, num gesto de partilha, comunicar a toda gente o seu enamoramento. Sem outdoor por perto a parede da escola foi uma tentação. Como sabem o mural tem uma forte tradição enquanto forma de comunicação.
Mas este gesto heróico, só possível nos toldados pelo bem querer, foi considerado uma grave delinquência. O Nuno cometeu um crime, disseram os que por despeito e inveja se apressaram a condenar. Só se podem pintar paredes e poluir visualmente os equipamentos urbanos quando se tem algo de importante para dizer, mensagens de política partidária, por exemplo.
O criminoso por afecto que escreveu uma mensagem de amor na escola no único sítio onde não o deveria fazer, foi punido com 312€ de multa ou, em alternativa, com trabalho comunitário que compensasse a gravidade do crime. De novo, certamente apoiado pela força que o amor empresta, dá, recusou-se a cumprir uma pena que o amor não consentiria.
Começou agora, em 2011, dizia a notícia na sua parte final, a cumprir a pena de prisão que o seu crime terá merecido dos zelosos administradores de lei que desconhecem ou invejam o amor e a sua força.
E Peniche dormiu em paz. Os bons ganharam e os maus foram castigados, como nas boas histórias.

PS - Nuno, por favor, não escrevas outra mensagem de amor nas paredes da prisão, também não se pode.

Sem comentários: