O Professor António Barreto, personalidade que respeito, vem a terreiro, mais uma vez, intervir na área mais efervescente em Portugal, a análise política, território privilegiado da emergente profissão de politólogo, mas ao dispor de "ensaístas", "juristas", "professores universitários" independentemente da área em que trabalham, "sociólogos", "jornalistas" e outros "tudólogos".
Claro que a clarividência, profundidade e capacidade e propostas de resolução dos problemas, sempre presentes em todas estas intervenções que diariamente nos bombardeiam, só faz lamentar que não sejam estes opinadores a gerir os nossos destinos. Curiosamente, por vezes, é de lembrar que alguns deles já ocuparam funções governativas durante a narrativa que nos trouxe até aqui, ao estado em que estamos.
Hoje, diz o Professor António Barreto que José Sócrates montou a actual crise política para se tornar vítima e daí retirar dividendos políticos.
Peço desculpa mas sendo cidadão português com os impostos em dia também quero fazer análise política.
O Engenheiro Sócrates vítima? Não Professor Barreto, vítimas são os milhares de portugueses em situação de desemprego. Vítimas são dois milhões de portugueses a viver no limiar de pobreza. Vítimas são os milhares de portugueses sem médico de família e com um sistema de justiça injusto, moroso e caro.
Vítimas somos nós todos de modelos de desenvolvimento económico e social de natureza liberal e neo-liberal que endeusam o mercado e promovem exclusão, "quem tem unhas é que toca guitarra". Vítimas somos nós todos pela abaixamento quase até ao grau zero dos padrões éticos da vida política e económica.
Vítimas somos nós de uma classe política que de mansinho transformou uma democracia emergente numa partidocracia em luta permanente pelos seus interesses que asfixia a cidadania, esquece o bem-estar comum e já nem se entende por bem realizar no Parlamento uma sessão comemorativa de uma irrelevância histórica recente, o 25 de Abril de 1974.
Por favor Professor António Barreto, não evoque a designação vítima em vão.