Como talvez se lembrem corre em 2010 o Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social. A comunicação social de hoje faz-se eco de forma generalizada da próxima entrada em vigor de ajustamentos, veja-se reduções, nos chamados apoios sociais. Em capa, o DN refere que estes cortes envolvem, por exemplo, menor comparticipação nos medicamentos, diminuição das isenções das taxas moderadoras nos serviços de saúde, limitação na acção social escolar e redução nos apoios a doentes acamados, nada de importante, como se percebe.
O JN coloca em primeira página que a "AMI já não tem alimentos para responder aos pedidos". Os dados conhecidos apontam para 10.8% de desempregados (cerca de 600 000), muitos sem subsídio, e à volta de dois milhões de portugueses em risco de pobreza dos quais 300 000 são crianças.
É neste cenário que se anunciam cortes nos apoios de âmbito social. Sabemos que existem situações neste universo que carecem de ajustamento e fiscalização.
É óbvio que importa combater desperdício e fraude mas baixar os apoios nas situações de maior fragilidade e vulnerabilidade social parece-me uma via muito arriscada, ainda que fácil.
Não se trata de criar e alimentar um quadro de "subsídiodependência", é um risco verdadeiro, mas de promover formas de justiça social que previnam e contrariem formas de exclusão que são fortemente ameaçadoras do clima social.
Por vezes, fico com a ideia de que as elites políticas, confundindo a realidade com os seus desejos e sobrevalorizando os interesses da partidocracia, não têm uma visão realista da enorme dificuldade em que muitos milhares de famílias (sobre)vivem.
Encontrar consensos e políticas ajustadas, designadamente, promovendo justiça e equidade, é mais do que uma opção positiva, é um imperativo de sobrevivência enquanto país.
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