sábado, 26 de junho de 2010

ESCOLAS GRANDES, ESCOLAS PEQUENAS

Como disse há algumas semanas, muitas das questões que se colocam em educação, como noutras áreas, independentemente da reflexão actual, solicitam algum enquadramento histórico que nos ajudem a melhor entender o quadro temos no momento. Durante décadas de Estado Novo, tivemos um país ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos e com escolaridade obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde houvesse uma criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura sempre evitadas. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e emigratórios explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o que, em conjunto com a decisão de política educativa referida acima, criou um universo de milhares de escolas sobretudo no 1º ciclo, pouquíssimos alunos. Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso mesmo, escolas demasiado pequenas não proporcionam necessariamente melhores resultados. Neste quadro emerge a necessidade de redimensionar a rede de escolas.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a “morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social possam começar a matar as aldeias e, em consequência, liquidam os equipamentos sociais, e não afirmar sem dúvidas o contrário.
Por outro lado, a concentração excessiva de alunos não ocorre sem riscos. Em primeiro lugar importa ponderar aspectos de natureza contextual, bem diferenciados nas diferentes zonas do país, como distância a percorrer, tipo de percurso e apoio logístico, condições obviamente importantes. Por outro lado, importa não esquecer que escolas demasiado grandes são mais permeáveis a insucesso escolar, absentismo, problemas de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental. A perspectiva de que em resultado deste processo necessário de reordenamento da rede escolar se definam os designados mega agrupamentos com milhares de alunos e centenas de professores e funcionários, dispersos por vários edifícios ou, pelo contrário, duvidosamente concentrados, potenciando factores de risco bem conhecidos, deve ser devidamente ponderada de forma a que não se criem problemas com a solução de problemas.
Neste cenário, a decisão de encerrar escolas não deve ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não pode assentar em critérios cegos e generalizados esquecendo particularidades contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir em educação, para o jogo político.
O bem-estar educativo dos miúdos é demasiado importante.

Sem comentários: