quarta-feira, 2 de junho de 2010

O QUILO DE CHUMBO E O QUILO DE ALGODÃO

Quando era miúdo acontecia com alguma frequência os adultos quererem colocar-nos questões que nos deveriam embaraçar ou, o maior desejo, levar-nos ao engano para então se rirem da ingenuidade e ou do erro, coisas de adultos, como sabem.
Uma das perguntas mais usadas neste contexto era a conhecidíssima “O que pesa mais, um quilo de chumbo ou um quilo de algodão?”. Já não me lembro mas, provavelmente, como todos, durante algum tempo, respondi errado e posteriormente, com um ar de puto inteligente que não se deixa apanhar na curva, já respondia que era uma pergunta um bocado estúpida para se fazer a gente tão sabedora e esclarecida.
Passados estes anos, sem vislumbrar porque me lembrei disto, chego à conclusão de que, embora não fosse certamente a intenção dos adultos a pergunta faz todo o sentido, um quilo não pesa sempre um quilo. Vou tentar explicar esta ideia, no mínimo, disparatada.
Se pegarmos na vida de muitas pessoas que andam à nossa beira, um quilo de vida não pesa o mesmo para todos. Há gente para quem um quilo da sua vida é um fardo insuportável de tanto peso. Por outro lado, também existem pessoas para quem uma tonelada da sua vida é de uma enorme leveza que se carrega sem esforço.
Se olharmos para os mais pequenos a situação ainda fica mais óbvia. Temos miúdos que desde de que nasceram, cada quilo da sua vida tem um peso que não conseguem carregar de tanto sofrimento e que os deixa amachucados debaixo de tamanha dimensão. Outros miúdos, felizmente a maioria, carregam cada quilo da sua vida com a leveza de um berlinde no bolso.
Com o tempo das pessoas a questão põe-se da mesma forma disparatada, uma hora não é sempre uma hora. Todos nós já tivemos horas que duraram uma eternidade e, noutras circunstâncias, tivemos horas que passaram num segundo.
Pois é, agora, que já não me fazem a pergunta, é que eu era capaz de dar a resposta que certamente embaraçaria o perguntador, ou seja, depende do algodão e depende do chumbo.

1 comentário:

maria disse...

É verdade o que diz. Muitos diagnósticos e pouca precisão.
E quem sabe,muitos rótulos pseudo-científicos para se calhar traduzir coisas tão banais como preguiça, desinteresse ou até simples traços de temperamento!
Outros porém, com sérias dificuldades de cognição ou de integração, passam completamente despercebidos...