Era uma vez um rapaz chamado Acostumado, um nome deveras estranho. Como todas as pessoas ficou Acostumado desde que lhe puseram esse nome. Tinha uns catorze anos e nada na sua vida o tinha surpreendido, era um Acostumado.
Sentia-se um bocado só, não falava muito e lá em casa pouca atenção lhe davam. O pouco tempo que aos pais sobrava da lida de fora, era utilizado com a irmã pequena. Ele já era um Acostumado.
Nunca teve notas que o fizessem sobressair. De vez em quando pensava que gostava de ter, assim um Bom num trabalho, ou um 90% num teste, mas nunca conseguiu. Tinha pena, mas estava Acostumado.
Não tinha muitos amigos. Aliás, podia mesmo dizer-se que não tinha amigos, ponto. Às vezes, olhava para os colegas que jogavam e estavam em grupos, tentava chegar perto, mas como não tinha muito jeito e os outros também não o chamavam, acabava por ficar de lado. Aborrecido, mas Acostumado como sempre.
Um dia, o Acostumado estava num canto a olhar para os colegas, aproximou-se a Filipa que ele conhecia do 8º B e veio falar com ele. Ficou embaraçado e sem saber muito bem o que dizer. Mais estranho achou o facto de a Filipa começar a vir ter com ele todos os dias e a todos os intervalos. Num deles, deu-lhe a mão e disse-lhe baixinho ao ouvido "Gosto mesmo de ti".
Pela primeira vez sentiu que não estava Acostumado e gostou, gostou mesmo. Nunca alguém lhe tinha dito tal coisa.
Sem comentários:
Enviar um comentário