Com o país envolvido na despedida a Saramago e na habitual feira de opiniões consensuais, muitas delas evidenciando profunda hipocrisia, o JN apresenta um trabalho muito interessante sobre o tratamento televisivo dispensado a grupos sociais minoritários. De uma forma geral, a pouca programação sobre estas populações e as suas problemáticas é residual e a pouca que existe é geralmente colocada em horários completamente desinteressantes verificando-se, naturalmente, audiências residuais. A RTP1, apesar do quadro geral negativo, apresenta indicadores um pouco melhores que os outros operadores, não sendo de esquecer as suas obrigações de serviço público.
Nesta circunstâncias é tentador e fácil estabelecer comparações com os meios, os recursos e o tempo de antena destinados a assuntos da mais variada natureza explorados "ad nauseam" sem que se vislumbre interesse ou sentido. Também não podemos ser ingénuos e esperar que os conteúdos televisivos escapem ao fortíssimo controle dos critérios comerciais, ou seja, interessa o que vende e garante audiência e publicidade, não o que é importante ou útil. Por vezes, ainda que raramente, estes critérios coincidem.
Como alguns dos elementos inquiridos pelo JN, não simpatizo com as quotas obrigando a um mínimo de horas de programação, caminho que nos levaria a situações complexas, incluindo a dificuldade de estabelecer quais as matérias, para além da questão das minorias que agora estamos a considerar, que deveriam ser objecto de quota de programação.
Neste quadro, emerge, como sempre a questão dos valores e da maturidade cívica da nossa comunidade. Num tempo em que se ouvem vozes e observam comportamentos de intolerância, quer em Portugal, quer no resto do mundo, a preocupação com a informação, o acolhimento e as atitudes e comportamentos face à diversidade são absolutamente decisivos.
Muitas vezes afirmo que o grau de desenvolvimento de uma comunidade também se avalia pela forma como cuida das minorias. Mantê-las invisíveis não é, seguramente, um bom caminho.
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