sexta-feira, 11 de junho de 2010

OS DESATINOS DOS MIÚDOS

Ontem numa conversa com gente da educação, profissionais e amadores, ou seja, educadores e pais, dizia-se que os miúdos andam muito “indisciplinados”, logo no jardim-de-infância, acrescentavam preocupados com os desatinos dos miúdos.
Não tenho nenhuma certeza de os miúdos estejam a vir com mais defeitos de origem do que é habitual, além de que não se podem trocar, uma vez que são fornecidos sem garantia e também sem manual de instruções. Pode acontecer, naturalmente, que o desatino venha de dentro deles, mas talvez não tenham nascido com ele. Talvez para os perceber a eles tenhamos que olhar para nós.
Pode ser que eles gritem tanto e em qualquer circunstância porque nós estamos a ficar mais surdos, ou seja, ouvimo-los pouco, falamos para eles, mas não os ouvimos. Pode até acontecer que eles aprendam também a ficar surdos e depois também já não nos ouvem.
Pode ser que eles pareçam não aceitar regras e se comportem de forma desregulada porque nós, pelas mais variadas razões, começámos, de mansinho, a ter medo de dizer Não. Eles aprenderam que tudo, ou quase tudo, pode ser sim e mesmo que digamos não, com uma birrazinha bem feita, esse não transforma-se em sim, é uma questão de tempo.
Pode ser que os miúdos façam asneiras grossas porque nós nem reparámos muito bem quando eles começaram a fazer asneiras pequenas e agora já estamos tão aflitos que nem sabemos o que fazer.
Pode ser que muitos miúdos tenham coisas e actividades de mais e atenção de menos, servindo-se então do que fazem e como fazem, para solicitar a atenção que é um bem de primeira necessidade e não substituível por “montes” de coisas e actividades “fantásticas”.
Pode até acontecer que os desatinos dos miúdos façam parte do kit de sobrevivência com que todos nascemos, e que os faz emitir sinais alertando para que alguma coisa não vai bem.
Finalmente, talvez esta conversa seja ela própria um desatino. A gente aprende com os miúdos o que eles aprendem connosco.

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