sexta-feira, 16 de outubro de 2009

GOSTO DA PROFESSORA

A Senhora Ministra da Educação foi inaugurar um centro escolar em Cabeceiras de Basto. Como é de bom-tom em visitas de “trabalho” a Senhora Ministra visitou as salas, novas e bem equipadas e deu dois dedos de conversa com os meninos. Numa sala do pré-escolar perguntou a um menino, o “mais espevitado da classe”, no relato do Público, “E o que é que gostas mais nesta escola nova?”. O espevitado rapaz respondeu “Da professora” o que parece ter surpreendido a Senhora Ministra que sendo especialista em crianças espevitadas explicou que “os alunos naturalizam as condições envolventes e acabam por dar mais importância à figura do adulto”. A sério, foi que a Senhora Ministra disse.
Mas não, as crianças, mesmo as espevitadas, não “naturalizam” (!!!!), seja lá isto o que for, as condições envolventes acabando por dar mais importância à figura do adulto. As crianças pequenas sabem, sentem, como todas as outras e como todos nós, que sendo os meios e os recursos importantes o que conta mesmo são as pessoas. Dito de outra forma, nenhuma superlativa e ultra equipada estrutura educativa educa uma criança, são as pessoas, pais e professores que o fazem, melhor ou pior. Este trabalho correrá, seguramente, melhor se as condições em que decorre forem de qualidade, mas não são de todo as condições que educam as crianças.
Mas até ao fim a Senhora Ministra parece não perceber o que é um professor.
Felizmente, eu sei, nós sabemos, sem surpresa, que a esmagadora maioria dos miúdos, sobretudo os mais pequenos, se lhes perguntarem o que gostam na escola incluirão os seus professores nessa escolha, esta sim natural. Aliás, como na apreciação da sua vida afirmarão gostar dos pais. A surpresa surge quando em crianças pequenas, professores ou pais não fazem parte do que gostam mais o que também sabemos que acontece, com alguns pais e com alguns professores que, é claro, não deveriam ser nem uma, coisa nem outra.

1 comentário:

Anónimo disse...

GOSTEI da tua resposta, miúdo espevitado. Para todos os miúdos deste país, dedico este poema de Miguel Torga (sem pretender naturalizar as condições envolventes...)

Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...

Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...

(Miguel Torga)

Bem-haja, senhor professor, e um óptimo fim-de-semana!
Mariana Emídio