segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES. DE NOVO


Durante a manhã de hoje ao realizar umas pesquisas de forma aberta voltei a constatar já sem surpresa, mas ainda assim com estranheza, a imensidade de oferta de formação de professores.
No nosso sistema é habitual um padrão de atribuição causal muito centrado nos professores em matéria de dificuldades sentidas no universo da educação. É sempre responsabilidade dos professores pelo que a proliferação da oferta de formação em todos os formatos e duração, para além do nicho de mercado que constitui, parece ser a grande solução.
Como aqui escrevi há algum tempo, é verdade que a formação de professores, inicial e contínua, é uma matéria em permanente discussão em qualquer sistema educativo. As mudanças rápidas e significativas nas sociedades actuais têm também implicações nas escolas, no que ensinam (educam), como ensinam (educam), a quem ensinam (educam), como avaliam, etc.
Na sequência das mudanças legislativas mais recentes designadamente no que se refere ao currículo e flexibilidade curricular e do novo regime da educação inclusiva desencadeou-se mais um ciclo de formação que envolve um enorme grupo de entidades, escolas superiores, autarquias e centros de formação, por exemplo, mas também muitas iniciativas de natureza mais individualizada oumesmo "empresarial".
Como seria de esperar a generalidade da oferta é assente na “inovação”, numa “nova escola” na “mudança de paradigma" e, obviamente, no que isto exige de novas práticas e até, porque não, novos professores. Bom, mas aqui não há volta a dar, são os que temos e, portanto, toca a formar.
Por razões óbvias não me pronuncio sobre a qualidade da imensa oferta disponível, não deixo, no entanto, de me surpreender com o surgimento de tantos especialistas e na produção de tantas e tão diversificadas ferramentas de criação de “novas práticas”, “novos olhares”, “novas abordagens”, “novas metodologias”, tantas “promoção de competências em …”, tantos conteúdos “neuro ou psico qualquer coisa”, etc.
Temo o risco de uma intoxicação séria que complique e burocratize ainda mais o já instável clima escolar.
Acresce que também fora do âmbito das iniciativas do ME parte do que sido feito, apesar do excelente trabalho de alguns centros de formação, escolas e mesmo municípios, parece ser de natureza avulsa, dependente dos financiamentos e, sobretudo, associada ao “modismo”, ao que parece estar na moda ou "promovida" no âmbito da “inovação” ou no âmbito de uma “mudança de paradigma”, ou da criação de uma "nova escola", etc.
Por outro lado, a forma como tem vindo a ser considerado, ou não, o impacto da valorização profissional na carreira dos docentes também contribui para algum trajecto errático neste contexto.
Devo afirmar que desde há muitos anos colaboro em inúmeras iniciativas no âmbito da formação de professores em diferentes formatos e duração, inicial e contínua, pelo que me sinto envolvido directamente nesta questão e certamente também comprometido com as questões que aqui coloco.
Acresce ainda que no que conheço melhor, o universo da chamada educação inclusiva, e como já repetidamente afirmei, temos o hábito de encharcar a legislação em doutrina quando deveria centrar-se basicamente em princípios, procedimentos, recursos e regulação. Assim, prolifera a oferta de pacotes de formação sobre o desenho universal da aprendizagem, a abordagem multinível e outros modelos que, não passam disso mesmo, modelos pelo que não deveriam estar na legislação. Se verificarmos nos canais mais habitualmente usados para divulgação os canais de divulgação a oferta formativa, organizada por problemáticas de alunos, por ferramentas didácticas, por modelos ou programas de intervenção professores ou famílias, a oferta é inesgotável e, frequentemente, “vendida” como a solução. Parece-me claro que a dispersão e quantidade da oferta, só por si, não é garante da sua qualidade.
As abordagens teóricas, os conceitos, as metodologias e didácticas fazem parte da formação inicial e entram na formação contínua como ferramentas de resposta e de actualização da mesma aos problemas e necessidades dos docentes que, naturalmente, vão sofrendo ajustamentos. É, pois, na clareza da identificação de dificuldades e desafios percebidos nas escolas pelos professores que deve assentar o desenho da oferta formativa.
Parece-me claramente necessária uma reflexão global sobre a formação contínua nos seus diferentes aspectos. De caminho talvez fosse de pensar também na formação inicial.

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