A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência
divulgou a versão portuguesa do relatório da rede Eurydice, “Key Data on Early Childhood Education and Care in Europe 2019”.
Na altura em que o relatório foi divulgado deixei aqui umas
notas que recupero sublinhando alguns dos indicadores. A garantia do acesso à educação pré-escolar em Portugal é
aos 3,5 anos, está numa posição intermédia no contexto europeu.
Ainda se verifica uma procura maior que a oferta embora aos
4 anos já estejamos perto do objectivo da UE para 2020, 95% das crianças de
quatro ou mais anos a frequentar educação pré-escolar, estamos com 94.2%, mas
se englobarmos as crianças com 3 anos a percentagem baixa para 90.9%. Sabe-se
que está definido como objectivo das políticas públicas de educação a garantia
do acesso universal das crianças de 3 anos em 2020 ainda que o processo esteja
a decorrer com algumas dificuldades dada a inexistência de respostas
suficientes para a procura designadamente em áreas geográficas de demografia
mais densa.
No que respeita à creche, com dados de 2017, temos 47.5% das
crianças em estruturas de acesso a esta resposta. A dificuldade de encontrar
respostas e os custos elevados do acesso aos equipamentos, boa parte privada ou
da rede social, dos mais altos no contexto europeu, veja-se o relatório
"Starting Strong 2017", divulgado pela OCDE que já aqui citei, é
reconhecidamente um dos factores associados à baixa natalidade e que, aliás, o
relatório sublinha.
É recorrente a divulgação de informação referindo a
existência de muitas crianças nas listas de espera de creches e
jardins-de-infância no chamado sector social em que as mensalidades são
indexadas aos rendimentos familiares. Esta situação afecta sobretudo zonas mais
urbanas e a alternativa da resposta privada é inacessível para muitas famílias.
Também é reconhecido por múltiplas análises o impacto positivo do acesso de
respostas educativas de qualidade em creche e jardim-de-infância.
Deve sublinhar-se que garantir a universalidade do acesso
não é o mesmo que obrigatoriedade. Aliás, de acordo com o relatório, dos 12
países em que se estabelece a universalidade aos quatro anos só em dois não é
obrigatório, sendo Portugal um dos países.
Como já tenho afirmado, não tenho certezas sobre a
obrigatoriedade da frequência, mas tenho a maior convicção no sentido de que
garantir a universalidade do acesso à educação pré-escolar aos três anos e
criar respostas de qualidade, acessíveis, logística e economicamente, às
famílias para as crianças dos zero aos três anos é imprescindível e urgente.
Acentuo também a ideia de que este período, até aos três anos, deveria também
estar sob tutela do Ministério da Educação e não da Segurança Social pois o
acolhimento das crianças deve estar abrangido por um forte princípio de
intencionalidade educativa.
Sabemos todos como o desenvolvimento e crescimento
equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente influenciado pela qualidade das
experiências educativas nos primeiros anos de vida, familiares ou institucionais. De pequenino é que ... se constrói o destino.
Assim, existem áreas na vida das pessoas que exigem uma
resposta e uma atenção que sendo insuficiente ou não existindo, se tornam uma
ameaça muito séria ao futuro, a educação de qualidade para os mais pequenos é
uma delas.
No entanto e mais uma vez, a educação pré-escolar é bastante
mais que a “preparação” para a escola e não deve ser entendida como uma etapa
na qual os meninos se preparam para entrar na escola embora se saiba do impacto
positivo que assume no seu trajecto escolar.
Na verdade, as crianças estão a preparar-se para entrar na
vida, para crescer, para ser. A educação pré-escolar num tempo em que as
crianças estão menos tempo com as famílias tem um papel fundamental no seu
desenvolvimento global, em todas as áreas do seu funcionamento e na aquisição
de competências e promoção de capacidades que têm um valor por si só e não
entendidos como uma etapa preparatória para uma parte da vida futura dos
miúdos, a vida escola.
Este período, a educação pré-escolar, educação de infância
numa formulação mais alargada, cumprido com qualidade e acessível a todas as
crianças, será, de facto, um excelente começo da formação institucional das
pessoas, dos cidadãos. Esta formação é global e essencial para tudo o que virão
a ser, a saber e a fazer no resto da sua vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário