O ME estabeleceu a possibilidade de que professores de Inglês, Francês, Alemão ou Espanhol possam dar aulas de
Português no 3.º ciclo e secundário desde que tenham feito um “estágio
pedagógico” nesta área. Também a disciplina de Inglês poderá ser assegurada por
professores de Português, Francês, Alemão e Espanhol e a de Geografia por
professores de História. Finalmente, a disciplina de TIC pode ser leccionada
por qualquer docente que tenha frequentado uma acção de formação nesta área.
Parece claro que a existência de
muitos alunos sem aulas em diferentes disciplinas é um problema complicado e
que exige resposta.
Parece também claro que a negligência
incompetente com que a questão do número de professores necessário ao sistema
contribui para a situação criada. Os dados demográficos, a composição dos
grupos disciplinares e as necessidades das escolas constituem informação
conhecida.
Parece ainda claro que a
narrativa dos professores a mais, globalmente, não passava disso mesmo, uma
narrativa.
Finalmente, parece claro que a
opção seguida levanta algumas inquietações em linha com o que aqui já tenho
abordado a propósito de um risco emergente de “desprofissionalização” dos docentes.
Esta “desprofissionalização” pode ir acontecendo através de medidas desta
natureza, mas também através da timidez na promoção da autonomia das escolas
associada aos efeitos da "municipalização” em curso ou projectos de
intervenção nas escolas realizados em “outsourcing”.
Deve dizer-se que este movimento
não é de agora e não começou por cá. Tem vindo a fazer o seu caminho em
diferentes sistemas emergiu na década de 80 sob a designação de “deskilling”
promovendo concepção “empobrecida”, diria “embaratecida”do professor e da sua função.
Nesta visão, os docentes cumprem ordens e programas, não têm que fazer
escolhas, possuir conhecimento aprofundado, solidez nas metodologias, valores
éticos e morais, etc. Seria suficiente uns burocratas a papaguear aulas para
grupos de alunos "normalizados" com base num currículo prescritivo e
no manual.
Os professores serão basicamente
“entregadores de conteúdos”, (content delivers na formulação original), outros
burocratas a medir saberes ou a desvalorização da avaliação interna e externa e
uns outros ainda a construir fórmulas de gestão num qualquer serviço
centralizado ou com um modelo que apesar de “descentralizado” não atribui, de
facto, autonomia robusta às escolas cujo modelo de governação é parte desta
equação.
Definitivamente, este não pode
ser o caminho. A “desprofissionalização” pode tornar os professores mais
“baratos” mas o nosso futuro será mais caro por pior qualidade, um professor de
… é muito mais que um técnico de …
Todas as necessárias mudanças na
educação só podem ocorrer e ser bem-sucedidas com o envolvimento e valorização
dos professores, das suas competências mas também, naturalmente, com a sua
avaliação.
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