Sem que alguma vez me tivesse
apercebido passa hoje o Dia Internacional da Não Violência e da Paz nas Escolas.
Não sei se será coincidência, mas é também divulgado hoje Observatório Nacional do Bullying
no âmbito de um programa “Plano B – Programa de Prevenção do Bullying”, com o
apoio da Direcção-Geral da Saúde e promovido pela Associação Plano i, com o
objectivo de “promover a saúde mental e a prevenção das agressões nos 2º e 3º
ciclo de escolaridade, promovendo ainda um contexto escolar seguro e
igualitário”.
São recorrentes os episódios de
violência escolar, também na configuração “bullying”, o que sustenta a
necessidade de uma atenção urgente, aprofundada e com consequências ao nível da
acção relativamente a episódios de agressão nos contextos escolares, física ou
de outra natureza, envolvendo alunos, docentes, técnicos e auxiliares e,
algumas vezes, com a participação de pais ou encarregados de educação.
O volume de episódios é
dificilmente avaliável pois apesar do número de registos parecer diminuir
sabe-se que por diferentes razões boa parte dos casos não é reportada.
Como ainda há pouco tempo aqui
escrevi tendo consciência do volume de problemas e da sua gravidade, também
entendo que as escolas, não são o inferno e para além dos problemas inerentes
aos processos e contextos educativos a escola é segura para a generalidade dos
que diariamente aí convivem. Quando os meus netos vão para a sua escola preciso
de acreditar que, apesar dos riscos, … vai correr bem.
Parece-me também claro que os
tempos são de natureza crispada nas relações, pouco regulados na convivialidade
e contaminados por intolerância(s), com focos preocupantes de conflitualidade,
caso da violência doméstica, por exemplo. É reconhecido que a escola, sobretudo
a escola pública, espelha em diferentes dimensões os contextos em que se inscreve.
No entanto, também sabemos que só
a educação, só processos educativos de qualidade, escolares e familiares, promovem o desenvolvimento de
competências e saberes escolares e profissionais mas também a formação pessoal
considerando valores, atitudes e comportamentos.
Neste sentido, a defesa
intransigente de políticas públicas de educação com qualidade e assentes na defesa da escola
pública é indispensável. Sem hierarquizar ou esgotar questões umas notas alguns aspectos
que julgo essenciais e de que aqui vou falando.
Importa valorizar
profissionalmente e socialmente os professores e a sua acção. Isto não se
promove com retórica nem por decreto, mas através de discursos positivos em
torno do estatuto social dos docentes, de não “desprofissionalizar” os
docentes, de valorizar carreiras e condições de exercício, de desenhar
dispositivos de apoio e colaboração a e entre docentes.
Promoção de competência e
regulação das direcções de agrupamentos e escolas. O modelo unipessoal tem
vários riscos e sabe-se como lideranças competentes promovem modelos
partilhados de liderança. Lideranças partilhadas e competentes sustentam climas
institucionais mais positivos mais regulados com impacto nas relações e
comportamentos de todos os actores, incluindo pais e encarregados de educação.
Importa que as escolas tenham
recursos e apoios para programas de mediação e tutoria com condições de
sucesso. . Sem entrar numa lógica de corporativismo profissional, creio que o
papel dos psicólogos de educação podem dar um contributo sério mas o seu número
nas escolas e agrupamentos e rácio excessivo verificado inibem uma melhor
intervenção e participação.
Estes modelos de trabalho desde
que dotados dos recursos necessários são ferramentas comprovadas de promoção do
desempenho escolar e do comportamento socialmente adequado.
Sabemos que a autoridade dos
professores, mas também do pessoal não docente, não se estabelece por decreto
mas promove-se no apoio que lhes é prestado, na insistente valorização do seu
trabalho, na recusa da impunidade e ligeireza ou mesmo no anonimato a que
muitos episódios são votados. A autoridade reconhecida a professores, técnicos
e funcionários é reguladora do comportamento que lhes é dirigido, mas também do
comportamento desenvolvido genericamente.
Importa que os auxiliares de
educação estejam nos espaços escolares em número suficiente, que sejam
valorizados e apoiados com formação para um trabalho muito importante na
promoção de comportamentos adequados nos contextos escolares.
Que as escolas e agrupamentos
possam integrar projectos de natureza comunitária que valorizem a acção e o
papel da escola, dos professores e importância futura do trabalho desenvolvido
por todos. Esta é uma dimensão em que as autarquias e outras estruturas poderão
ter uma acção importante.
Como é evidente trata-se de uma
matéria complexa com implicações que envolvendo a escola está para além da
escola.
No entanto, repetindo ou mudamos
e melhoramos pela educação ou … dificilmente lá chegaremos. Ao futuro de gente
de bem.
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