Gostei de ler a entrevista do Público a Henrique Joaquim, o
primeiro responsável da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em
Situação de Sem-abrigo que está em desenvolvimento a partir de agora.
Considerando a experiência de Henrique Joaquim e a sua
própria avaliação dos recursos e vontades disponíveis quero acreditar no
potencial desta iniciativa. A ver vamos.
No entanto, parece-me que não devemos esquecer que é muito
grande o mundo dos sem-abrigo. São muitos, os sem-abrigo do mundo.
São muitos, os sem-abrigo num porto que os acolha, uma casa, uma família, um espaço a que dêem vida e que lhes apoie a vida.
São muitos, os sem-abrigo, mesmo em famílias e em
instituições.
São muitos, os sem-abrigo no afecto, nos afectos, sem um
coração que os abrigue.
São muitos os sem-abrigo em escolas onde não cabem.
São muitos, os sem-abrigo em mundos que não são seus. São muitos, os sem-abrigo em culturas que não entendem e que não querem entendê-los.
São muitos, os sem-abrigo em mundos que não são seus. São muitos, os sem-abrigo em culturas que não entendem e que não querem entendê-los.
São muitos, os sem-abrigo num corpo que seja aconchego para
o seu corpo.
São muitos, os sem-abrigo em valores que predominam mas não
reconhecem.
São muitos, os sem-abrigo em vidas que lhes não pertencem
mas carregam. São muitos, os sem-abrigo no aceder e no gostar das coisas de que
a vida também se tece.
Muitos destes sem abrigo vivem à nossa beira, sem-abrigo,
não contabilizados, nem contabilizáveis.
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