A existência de avaliação externa
nos sistemas educativos é uma ferramenta imprescindível de regulação e promoção
da sua qualidade embora, só por si, não a garantam. Esta avaliação externa pode
ser realizada em diferentes patamares e dispositivos de que exames, provas de
aferição ou estudos comparativos internacionais de desempenho dos alunos como o
PISA ou o TIMSS são exemplos.
Nesta perspectiva é sempre com
interesse que se aguardam resultados destes dispositivos.
Vem esta introdução a propósito
da divulgação dos resultados do PISA 2018. Em síntese telegráfica, globalmente
verifica-se estabilidade no progresso que tem vindo a verificar-se em
sucessivas edições e o abaixamento verificado em Ciências não parece
significativo ainda que, naturalmente, mereça atenção.
Mais preocupante é a manutenção
do peso das “mochila” sociodemográfica dos alunos no seu desempenho, ou seja, os
alunos de famílias com menos recursos e qualificação continuam com desempenho
médio muito baixo, apenas 10% atingem níveis elevados. Também me parece relevante os dados relativos aos hábitos de leitura e à forma como os alunos percebem as aulas e o clima de aprendizagem quer nos aspectos mais positivos, quer nos menos bons.
Como também é habitual quando se
divulgam resultados e no âmbito da sempre presente conflitualidade de
interesses da partidocracia na educação verifica-se uma corrida na apropriação dos
bons resultados e uma atribuição de responsabilidade que nunca é própria nos
menos positivos. Emergem também comentadores, especialistas ou não que, por
vezes, e em função de agendas mais ou menos explícitas “vêem” relações de
causa/efeito onde apenas se poderão encontrar associações ou correlações. Nada
de novo.
Na verdade, não me parece que os
resultados no PISA possam ser submetidos a algum teste de paternidade de forma
a identificar os seus progenitores pelo que a discussão estará condenada à
esterilidade e à retórica inconsequente. Como já tenho afirmado, a única ilação segura
que se pode retirar é que o trabalho de alunos e professores tem sido melhor
sucedido apesar de políticas públicas mais ou menos amigáveis em diferentes aspectos.
É verdade que o volume de
resultados permitirá análises úteis e importantes em termo de acção mas não nos
termos em que mais frequentemente se desenrola a discussão.
Do que se conhece, nada autoriza
a sustentar a existência de uma relação de causa-efeito entre o número de
exames e a subida de resultados, entre o número de alunos por turma e a subida
de resultados, entre a diminuição do número de professores e subida nos resultados, entre sucesssivas mudanças curriculares e a subidade de resultados, entre o estabelecimento de 998 metas curriculares em Língua
Portuguesa, por exemplo, e a subida de resultados, etc., etc.
Por outro lado, também nada autoriza a
estabelecer nenhuma relação de causa efeito, por exemplo, entre dividir
professores e criar um clima infernal nas escolas e a subida de resultados.
Estas notas não servem para um
exercício gratuito de “contrismo”, estar contra tudo o que foi feito,
designadamente, por Maria de Lurdes Rodrigues, Nuno Crato ou Tiago Brandão
Rodrigues, não se trata disso. Trata-se se sublinhar que como já
escrevi hoje os professores e os alunos vão cumprindo a sua parte, apesar de
muitos aspectos negativos das políticas educativas cujos responsáveis se querem
tornar donos de resultados positivos e enjeitar responsabilidades no que de
menos bom acontece como, aliás, escrevi acima.
Quando a poeira assentar deixo um
convite para gastar uns minutos de leitura de uma carta que me parece de
recuperar e que foi publicada no The Guardian em 6 de Maio de 2014 dirigida a
Andreas Schleicher, director do PISA, por um grupo alargado, significativo e de
vários países de académicos e especialistas em educação ou representantes de
entidades a operar neste universo. No documento é apresentada uma leitura muito
interessante do PISA e também avançadas algumas sugestões de desenvolvimento.
Um pequeno excerto para apelar à
leitura e, sobretudo, à reflexão.
Precisamos de não esquecer que
existe educação para além do PISA.
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