Um dos produtos sazonais é a divulgação no final de cada ano pelo Instituto dos Registos e do
Notariado dos nomes que os pais entendem "oferecer", chamar, aos que vão
nascendo. Também neste aspecto e sem surpresa em 2019 se verifica alguma alteração considerando os registos até 5 de Dezembro. Aliás, quem como eu lida todos os anos com sucessivas gerações de
alunos são evidentes e curiosas as mudanças têm vindo a ser registadas e bem evidentes ao fim de alguns anos.
Nas raparigas a tradição ainda é
o que era, Maria é o nome mais atribuído, Leonor é o segundo e Matilde o
terceiro. Mantêm-se bem colocados nomes Carolina, Beatriz ou Alice estando
também Benedita, Mariana, Ana e Francisca entre os mais registados.
Nomes como Catarina, Diana,
Daniela, Joana e Sara entraram claramente em perda e Ana vai resistindo depois
de ter passado muito tempo no topo da escolha.
Quanto aos rapazes, João perdeu o
primeiro lugar para Francisco seguindo-se Santiago, Afonso, Gabriel, Duarte.
Fecham os dez nomes mais registados Lourenço, Miguel, Rodrigo e Tomás.
Devo dizer que tenho vindo a
ficar um pouco inquieto com o rumo que a coisa tem vindo a tomar.
Um mundo sem “Sónias Andreias”,
sem “Cátias Vanessas”, sem “Sandras Cristinas”, sem “Tatianas”, sem “Fábios”,
sem “Mauros”, vai ser certamente um mundo diferente. Também em trabalhos
anteriores sobre esta matéria se registava já a tentativa de sofisticar um
pouco as escolhas, mantém-se o popular Maria, João e Francisco mas temos o
Santiago, o Rodrigo, o Martim, o Tomás, o Santiago, o Afonso, a Mariana, a
Matilde, a Beatriz, entre outras, que nos garantem, enfim, outra apresentação.
Mas o que me deixou mais
apreensivo face a esta questão, é que, recordando um trabalho também sobre esta
matéria há algum tempo divulgado, parece notar-se que o povo está mesmo a
voltar as costas aos nossos mais gloriosos nomes, sobretudo nos rapazes, nomes
como Manuel, António, José, Paulo, Carlos, etc. estão em queda. Será que vamos
deixar de ter um Carlos Jorge, um António Manuel, um Manuel Carlos, um José
Manuel, um António João, um Paulo Jorge, tudo nomes na nossa melhor tradição?
Para dar um exemplo, os meus
nomes, José e António desapareceram dos vinte primeiros na lista de 2018. Este
ano e ainda não conheço a lista completa.
Até nos nomes! A nossa identidade
está em mudança.
É certo que existem uns nomes que
todos os dias, em voz mais alta ou mas baixa, chamamos a alguém e que se mantêm
e manterão, aí a tradição ainda é o que era, felizmente.
Por outro lado, existe um outro
lado dos nomes que se chamam e de que as pessoas e de que as pessoas não
gostam, uma pequena história que há tempos aqui deixei.
"Gosto quando me chamam. Às
vezes, muitas vezes, não me chamam.
Outras vezes chamam-me nomes que
não são meus. Os crescidos chamam-me preguiçoso, distraído, parvo, bebé,
coitadinho e outros nomes, sempre nomes que não são meus.
Os outros miúdos chamam-me
badocha, gordo, bolacha, caixa de óculos, def e outros nomes, sempre nomes que
não são meus.
Eu acho que as pessoas, todas as
pessoas, só deviam ter um nome, o seu."
Seja ele qual for, acrescentaria
eu.
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