Voltando ao PISA 2018 também me parecem importantes os dados
relativos aos hábitos de leitura dos alunos de 15 anos, 22% entende que “ler é uma perda de tempo” e
31% afirma que só lê quando é obrigado.
Nunca é demais sublinhar a importância dos livros e dos
hábitos de leitura na vida das crianças. São ferramentas cruciais de construção pessoal e cívica, de construção e acesso ao conhecimento, informação e à cultura pelo que repesco umas notas.
São múltiplos os estudos que sublinham essa importância, no
trajecto escolar e no trajecto pessoal, como também muitos trabalhos mostram
que os hábitos de leitura são pouco consistentes entre as crianças,
adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre a população em geral. Também se sabe que mesmo a leitura de obras integradas no trabalho escolar é substituída pelo recurso a resumos e fichas que se encontram facilmente.
Sabemos ainda o quanto é positivo que os pais ou outros
“mais crescidos” se envolvam com as crianças, mesmo em idade de
jardim-de-infância, em práticas de leitura e de actividades com os livros para,
por exemplo, contar histórias a partir das imagens. Lembro-me de ouvir o Mestre
João dos Santos afirmar que as crianças aprendem a ler desde que abrem os
olhos.
É verdade que os estilos de vida actuais ou a quantidade de
tempo que muitas crianças passam nas instituições educativas podem minimizar a
disponibilidade familiar para este tipo de actividades depois de dias muito
compridos e cansativos para todos.
Também sei que os livros e materiais desta natureza têm uma
concorrência fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por
exemplo, e que nem sempre é fácil levar as crianças a outras opções,
designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto também sabemos todos que é possível
fazer diferente, mesmo que pouco diferente e com mudanças lentas.
Como várias vezes tenho afirmado e julgo consensual, a
questão central, embora importante, não assenta nos livros, bibliotecas
(escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente e atractiva dos
"tablets", a questão central é o leitor, ou seja, o essencial é criar
leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, espaços
ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes diferente, papel ou digital.
Aliás e no que se refere suporte digital, o PISA 2018 também
mostra que tem aumentado o tempo médio passado pelos alunos ligados à internet,
média de 2.8 horas diárias durante a semana e 3.5horas ao fim-de-semana. Estes
indicadores sugerem um caminho a explorar.
Creio que também estaremos de acordo que um leitor se
constrói desde o início do processo educativo. Desde logo assume especial
importância o ambiente de literacia familiar e o envolvimento das famílias
neste tipo de situações, através de actividades que desde a educação
pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas e para as quais
poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Nos primeiros anos de escolaridade é fundamental uma relação
estreita com a leitura, não só com os aspectos técnicos, por assim dizer, da
aprendizagem da leitura e da escrita da língua portuguesa, mas um contacto
estreito e regular com a actividade de leitura, seja do que for, considerando
motivações e culturas diferenciadas apresentadas pelos alunos.
Só se aprende a ler lendo, só se aprende a escrever, escrevendo,
etc.
A relação de muitas crianças com os materiais de leitura e
escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais, na aquisição
pressionada dos “objectivos” e "descritores" curriculares e pouco
mais, apesar do esforço de muitos professores. Restará o tempo das AEC onde,
apesar de algumas experiências interessantes, também nem sempre se encontram os
conteúdos mais adequados e o tempo de casa que em muitas famílias, cada vez
mais famílias, é curto.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, não é
fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em
bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" também para ler
e não apenas para uma outra qualquer actividade do mundo que tornam acessível.
Como tantas vezes tenho escrito, é fundamental criar
leitores, eles irão à procura das bibliotecas e dos recursos para ler.
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