Como todos sabemos e reafirmamos
o tempo de natal é um tempo de generosidade e empatia. Assim sendo, não se compreende que a imprensa divulgue agora que durante este ano a Inspecção-Geral da Educação
e Ciência instaurou vinte processos contra estabelecimentos de ensino ou seus
responsáveis pela generosidade e simpatia com que fazem “crescer” as notas dos
seus alunos do ensino secundário de modo a permitir uma maior facilidade no
acesso ao ensino superior. A maioria das situações envolve escolas privadas.
Não se entende, no fundo trata-se
de uma generosa e desinteressada ajuda a que estes alunos e suas famílias concretizem os seus
sonhos.
Mais a sério.
Este cenário é conhecido, pelo
menos, desde 2015, 2016 que sucessivos trabalhos do Conselho Nacional da
Educação, da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e da Inspecção-Geral da
Educação e Ciência que este expediente manhoso existe. Estranho mesmo é que só durante este ano tenham sido concluídos inquéritos a instituições e
responsáveis.
Recordo ainda que sendo certo que
entre as escolas “simpáticas”, as que inflacionam as notas, predominam as
escolas privadas, é evidente que no caso das escolas em que os alunos obtêm
melhores resultados nos exames que nas avaliações internas predominam
habitualmente as públicas, ou seja, o “facilitismo” das escolas públicas que
alguns apregoam não será assim tão claro.
Os responsáveis pelas escolas em
que o “fenómeno” da simpatia e generosidade é mais evidente tentam explicá-lo
de formas diferentes e em alguns aspectos até bastante curiosas, projecto
pedagógico ou educativo da instituição, entendimento diferenciado sobre o
próprio papel da avaliação interna, etc.
É também por razões desta
natureza que, afirmo-o de há muito, a conclusão e certificação de conclusão do
ensino secundário e a candidatura ao ensino superior deveriam ser processos
separados. Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação
realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido
pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino
secundário.
Não está em causa a existência de
exames finais no ensino secundário. O que me parece ajustado é que as
classificações, internas e externas no ensino secundário deveriam constituir
apenas um factor de ponderação a contemplar com outros critérios nos processos
de admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás, acontece
em muitos países.
O acesso ao ensino superior é um
outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar
sob a sua tutela.
A situação existente alimenta os
negócios da educação. Curiosamente, os estudos da Universidade do Porto mostram, pelo menos desde 2012, que as notas de acesso
dos alunos do ensino secundário privado não sustentam carreiras escolares no
ensino superior no mesmo patamar, os alunos oriundos de escolas pública obtêm
melhores resultados.
Tenho alguma curiosidade sobre o
que pensarão sobre estes expedientes os alunos, os pais e os professores destas
escolas. Dos responsáveis institucionais adivinho o que dirão, se disserem
alguma coisa, "nada lhes pesa na consciência". Como sempre.
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